sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Tansparência e justiça

Quando há razões para se fazer justiça, faça-se justiça.

Hoje acabei de cobrir a minha quarta negociação sobre o quadro orçamental plurianual da UE para os anos 2014-2020. Os anteriores foram os quadros 1992-1999, 2000-2006 e 2007-2013.

Foram todas negociações dificílimas, complicadíssimas, que se arrastaram durante meses e que metiam uma quantidade infindável de estatísticas e números sobre quanto é que cada país paga para o orçamento comunitário, quanto é que vai passar a pagar; quanto é que recebe de ajudas agrícolas ou estruturais, quanto é que vai passar a receber; se se altera este parâmetro, que efeito tem nos outros; se se mexe no cheque britânico, o que é que isso significa para as outras contribuições. É assim como um puzzle de 5 mil peças...

Hoje, quando acabou a cimeira europeia que definiu o novo orçamento até 2020, estávamos nós, os jornalistas, algo apreensivos com o risco sempre presente de sermos enganados, ou baralhados, com as eternas vitórias negociais a que os nossos governantes sempre nos habituaram.

Pois bem, não foi nada disso que aconteceu. Passos Coelho desceu à sala de imprensa portuguesa e debitou os números todos, direitinhos, certinhos. Acima de tudo, assumiu pacificamente que vamos ter menos fundos estruturais e agrícolas do que antes, porque o orçamento é mais pequeno. Em suma, não tentou enganar ninguém e tratou a coisa com a maior naturalidade.

Que contraste com as negociações anteriores, lideradas, respectivamente, por Cavaco Silva, António Guterres e José Sócrates. A confusão que foram os anúncios daqueles acordos, sempre com vitórias retumbantes para o Primeiro Ministro do momento, pois claro, com números mirabolantes que obviamente não eram de todo comparáveis, percentagens saídas sabe-se lá de onde, enfim um pandemónio que nos obrigava a passar horas e horas a tentar fazer as contas todas para tentar apanhar o embuste (e, já agora, adivinhem quem era o mais criativo na apresentação destas vitórias coloridas...)

Diríamos: é o mínimo que se exige a um Primeiro Ministro que seja sério, sóbrio e que não nos tente enganar. Pois claro que é, só que nós é que não estávamos habituados. É sobretudo um sinal de maturidade parar com a parolice saloia de que "lá fora" temos de fazer boa figura, que era assumida por muitos dos nossos ex-Primeiros ministros. Até que enfim.

E já agora acrescento: os cálculos e a clareza de Passos facilitaram-nos imenso o nosso trabalho. E também por isso merece que lhe seja feita justiça.

http://www.publico.pt/economia/noticia/van-rompuy-anuncia-no-twitter-acordo-sobre-orcamento-comunitario-1583861