quinta-feira, 24 de julho de 2008

Durão Barroso está na calha para um novo mandato na Comissão Europeia. Estará?

Durão Barroso já admitiu o que não era segredo para ninguém, ao reconhecer que gostaria de obter um novo mandato de presidente da Comissão Europeia.

Esta confissão foi ajudada pelo anúncio de dois apoios públicos: Nicolas Sarkozy, presidente francês, e Silvio Berlusconi, primeiro ministro italiano. São dois grandes países e enquanto tal, o seu apoio é mais que significativo. Mas a experiência mostra que anúncios feitos com esta antecedência - a decisão só está prevista em Junho de 2009 - muitas vezes dão mau resultado. E a verdade é que nem Sarkozy nem Berlusconi são modelos de previsibilidade. Curiosamente, aliás, são os dois lideres tradicionalmente mais exuberantes nas críticas à Comissão Europeia. O que significa que até Junho de 2009, tudo pode acontecer. E que Durão Barroso vai ter de ser particularmente hábil na gestão das susceptibilidades de Paris e Roma.

Paradoxalmente, no entanto, a recondução de Barroso não suscita nenhuma vaga de entusiasmo, nem sequer no seio do PPE, a federação dos partidos conservadores/democratas-cristãos (que inclui o PSD português) que terá quase seguramente o privilégio de escolher o próximo presidente da Comissão, porque vai quase seguramente ganhar as eleições europeias de Junho de 2009. Nos outros partidos a reacção é sobretudo de desalento.

Dentro do PPE, ainda há quem preferisse mudar de protagonista. Uns porque consideram que a Comissão sob Barroso é cada vez menos comunitária e cada vez mais intergovernamental. Outros porque acreditam que a actual equipa tem as suas culpas na rejeição da Constituição Europeia em França e na Holanda, em 2005, e do Tratado de Lisboa na Irlanda, a 12 deJunho passado (como é o caso, aliás, de Sarkozy). Outros ainda porque não apreciaram particularmente algumas das suas propostas (caso, por exemplo, da redução do CO2 dos automóveis, ou da separação patrimonial dos grandes grupos energéticos).

Alguns partidos membros do PPE gostariam de ir às eleições europeias de 2009 com um programa comum e um candidato pré-anunciado à presidência da Comissão, esperando assim reforçar a sua legitimidade popular; outros, hesitam, nalguns casos por não estarem ainda totalmente convencidos sobre o sentido da escolha.

Tudo isto significa que embora a recondução de Barroso seja agora dada como praticamente adquirida, ainda não está garantida.

O presidente da Comissão tem a seu favor um facto surpreendente, que é a ausência, por agora, de candidatos para um posto que parece cada vez menos inspirador.

Os socialistas, a segunda maior família política, reconhecem, penosamente, que não têm nenhum nome de peso para avançar. Mas também não estão muito preocupados, porque sabem de antemão que o escolhido sairá quase seguramente do PPE.

Dentro do PPE, há um único nome regularmente referido - o de Jean-Claude Juncker, primeiro ministro do Luxemburgo - como já acontecera, aliás, em 2004. Juncker preencheria todos os requisitos escritos e não escritos, incluindo o que estipula que o presidente da Comissão tem de ser um ex-primeiro ministro (um critério irónico, quando se sabe que o melhor presidente de sempre da Comissão Jacques Delors, não fazia parte do clube dos “ex”). Só que o visado recusa terminantemente um posto que associa muitas vezes ao de um burocrata à mercê dos caprichos dos Estados, e visa sobretudo o cargo de primeiro presidente do Conselho Europeu (previsto no Tratado de Lisboa). O que deixa, de facto, Durão Barroso sozinho na corrida. Por agora.

11 comentários:

Anónimo disse...

O proximo presidente da comissao europeia sera um reflexo tanto dos dirigentes europeus como da conjuntura economico-social europeia.
Com lideres dos “grandes paises” como Berlusconi, Sarkozy e um Grodon Brown em desgraça, e num cenario de recessao economica e consequente agitaçao social, a escolha será limitada a candidatos liberais (do ponto de vista economico) e conservadores (do ponto de vista social), e que nao pressionem muito os Estados Membros ja demasiado ocupados com coisas serias para terem, ainda por cima, dores de cabeça com a Europa.
O tempo nao esta para aventurismos com metas apertadas em renovaveis, quotas de pesca da anchova ou o que quer que seja. Por isso é que esta nomeaçao parece cada vez mais irrelevante...

Anónimo disse...

E para reforçar esta tese aqui vai o link para um outro excelente blog sobre Bruxelas (em Francês)

http://bruxelles.blogs.liberation.fr/coulisses/2008/07/commission-barr.html#more

Uma excelente analise sucinta do mandato de Barroso e porque é que ele é, um ano antes das eleiçoes europeias, o melhor (unico) candidato ao lugar...

Anónimo disse...

O perfeito bode espiatorio para as asneiras feitas na Europa nos ultimos anos.
Ninguem quer dar a cara, por isso escolhem Portugal, um pais que nunca diz que nao, para um nome de um tratado dictatorial, e um portugues para presidir a um barril de polvora chamado UE.

Portugal fora da UE, ja!

Unknown disse...

O problema é mais complexo.

Para já a UE parece uma capoeira cheia de galos, o Presidente da Comissão, O Presidente do Conselho e o Alto Comissário para os Negócios Estrangeiros e Segurança (estes dois quando a Constituição, sorry, o Tratado de Lisboa, for aprovado (quer a Irlanda diga "Não" ou insista no "Não"), e, last but not least, o Primeiro Ministro da presidência rotativa (que continuará a existir).

Assim, só se decidirá alguma coisa quando os poderes desta malta toda estiverem delimitados.

Isto numa fase de crise economico-financeira parece uma mistura demasiado explosiva.

Quanto mais depressa sairmos deste saco de gatos, melhor!

Alvaro disse...

Ando preocupado com a possibilidade deste blog ser extinto.

Agora que as coisas estão a aquecer na UE e que, talvez, o problema não se Durão Barroso é o próximo Presidente da Comissão mas sim, se será o último...

Senão vejamos, o Euro está a destruir as economias europeias e a crise anuncia-se com todo o fragor.

Claro que os euro-fanáticos dizem que a culpa é dos Estados Unidos, mas não é, a culpa é nossa, é de todos aqueles que apoiaram a UE uber alles e que, como há muito se está tornando evidente, acabam por a destruir.

Este comentário foi-me sugerido por uma notícia que nos chega da Holanda, um dos berços da União Europeia.

Então não é que o descrença no projecto europeu já é maioritário na Holanda? (para quem sabe holandês ver http://www.volkskrant.nl/binnenland/article1056774.ece/Scepsis_over_Europa_neemt_toe)

Na prática 55% da população não tem confiança no projecto europeu contra uns meros 26% que ainda o apoiam.

Sim, a História não acabou.

Tentou-se esconder a História no baú das recordações juntamente com a democracia mas estas estão a voltar com todo o fragor.

Não, este blog não pode acabar pois estamos a entrar num período histórico importantissimo, periodo esse que testemunhará e o ocaso do projecto europeu, morto e assassinado pelos seus próprios partidários.

Anónimo disse...

Caro Raio,
Credo, tanto pessimismo... Estou a ver que as férias não lhe correram bem. O que o raio se recusa a aceitar é que a UE é uma necessidade. Antes de mais, um necessidade para a paz, algo que o raio parece dar como garantido mas, como os recentes episodios na Georgia mostram, a paz nunca pode ser dada como adquirida. Posso lhe dar muitos outros argumentos mas ja estaria a repetir discussoes passadas neste blog e sei que o raio se recusa a aceita-los. Mas pelo menos a este argumento deve ser sensivel, ou nao?

Alvaro disse...

Caro Bernardo,

As férias correram-me muito bem, longe da UE, na China (Beijing)...

"a UE é uma necessidade"

??? Qualquer cemitério está cheio de pessoas indispensáveis.

A História também está cheia de países e organizações indispensáveis, desde a Sociedade das Nações à União Latina...

"necessidade para a paz, algo que o raio parece dar como garantido mas, como os recentes episodios na Georgia mostram, a paz nunca pode ser dada como adquirida"

De nenhuma forma dou a paz como garantida, antes pelo contrário. Na minha opinião a UE está a conduzir a Europa para um imenso banho de sangue, para uma super-Juguslávia.

Quanto à Geórgia, o actual Presidente foi lá colocado por americanos e europeus e foi quem, pensando ter as costas quentes, começou a guerra.

Claro que a UE (que não merece confiança) quando viu os perigos de um boicote russo ao petróleo e ao gás, começou a armar em pacifista.

Um abraço

Anónimo disse...

Raio, desde o alargamento de 2004 que a UE esta nas maos da Russia. Todos os paises do antigo bloco-leste abastecem-se de petroleo e gas russo. Tendo em conta o clima continental desses paises, da Estonia a Bulgaria, e a necessidade de aquecer as casas, da para imaginar a quantidade de energia que se gasta. Tendo em conta a melhoria das economias desses paises, com um enorme aumento do parque automovel e do consumo de combustiveis, percebe-se porque que a UE de repente ficou nas maos da Russia.
O oleoduto que liga o Azerbaijao a Turquia, passando pela Georgia e uma alternativa a essa dependencia.
A politica agressiva da Russia, que utiliza o petroleo como arma motivou a guerra da Georgia. Li que o oleoduto foi destruido.
A situacao e muito perigosa, com riscos de uma guerra entre a Russia e a Nato, se a Nato enviar tropas para a Georgia. Mas e preciso uma resposta firme por parte da UE (o que nao aconteceu).
Por outro lado, a Russia argumenta que a Georgia tem um regime tiranico, e que a Russia so quer proteger as populacoes a Abkazia e da Ossetia, o que provavelmente e verdade. A Abkazia foi incorporada na Georgia pelo Estaline (um tirano georgiano), e o regime georgiano nao respeita os direitos humanos.

Sendo assim, A resposta da Nato deve ser:
1 - Aceitar a independencia da Abkazia e da Ossetia do Sul.
2 - Assim que essas regioes forem separadas da Georgia, exigir que a Russia nao interfira na Georgia. A Nato deve depois enviar tropas para a Georgia e ao mesmo tempo pressionar o governo georgiano para respeitar os direitos humanos.
3 - Proteger o oleoduto com tropas. E do interesse vital para a qualidade de vida do mundo, que esse oleoduto esteja em funcionamento. Evita dependencia excessiva da Russia, e evita que o preco do petroleo suba mais. Nao existe nada de errado em defender interesses economicos, porque da economia depende toda a nossa qualidade de vida. Se a Russia continuar com objeccoes, depois dessas regioes terem sido separadas, entao ve-se claramente que o interesse da Russia e controlar o petroleo do Mar Caspio.
Assim, a UE deve impor sancoes economicas contra a Russia, e a Nato deve intervir.

Nao tenho nada contra os Russos. Sei que eles sofreram muito nos anos 90, e que isso nao e justo. Mas a bola inverteu-se ao ponto de a Russia ameacar tornar-se uma potencia autoritaria e arrogante para o mundo. Tem sido 8 ou 80. A politica da UE deve consistir em buscar alternativas, mas como a UE e muito timida neste aspecto, a Europa esta a afundar-se.

Saudacoes da Bulgaria. Por isso escrevo sem acentos.

Unknown disse...

Caro joao eu ceptico,

De uma forma geral tens razão.
Depois de USA e UE terem apoiado com mais ou menos entusiasmo a independência do Kosovo só lhes resta apoiarem a independência da Ossétia do Sul e da Abcásia(creio que é assim que se escreve).
Claro que isto é só o princípio do desmembramento de muito estado por essa Europa fora, da Moldova a Espanha. O futuro augura-se bastante perigoso e sou de opinião de que nos devemos ir preparando para a guerra, pois não duvido que ela virá.
Na minha opinião é importante que nos dotemos de uma capacidade defensiva credível.

Quanto ao problema da Geórgia não nos podemos esquecer de que foi o Presidente lá colocado por europeus e americanos que deu oportunidade aos russos de intervir. Claro que estes nunca iriam perder tal oportunidade.

Como Agatha Christie colocou ma vez na boca de Poirot, "a estupidez é um pecado nunca perdoado e sempre punido".

Desejo-te uma boa estadia lá pela Turquia do Norte, sorry, Bulgária.

Anónimo disse...

Acho melhor deixarmos a UE e a Russia afundarem-se, com Portugal de fora.
Mas numa guerra nuclear, nao vai ficar ninguem para contar como foi. A Russia acabou de ameacar a Polonia com um ataque nuclear.
Acho positivo que a Catalunha, Pais Basco e Galiza venham a ser independentes. Isso reduz a predonderancia da Espanha na peninsula.

Alvaro disse...

"A Russia acabou de ameacar a Polonia com um ataque nuclear."

Pois é, este fim da História está a ser muito doloroso e perigoso...

Acredito que haja guerra mas não acredito que seja uma guerra nuclear. Pelo menos na Europa pois, lá para os lados do Paquistão já não digo nada.

"Acho positivo que a Catalunha, Pais Basco e Galiza venham a ser independentes."

Eu também. Estas independências viriam equilibrar a Península Ibérica tranformando-a num território com uns cinco países, pelo menos.

Mas o que vai ter piada é ver qual a reacção da UE à independência de parte de um Estado europeu.
Para já o de maior probabilidade é a Flandres por cisão da Bélgica.

Mas há outros na calha, Escócia e os de Espanha.
Sinceramente não faço a menor ideia como é que se explica que há lógica para a independência do Kosovo (território Sérvio que foi sendo colonizado por albaneses) mas não há lógica para a independência do País Basco, território basco ocupado pelos castelhanos...