quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Esqueçam o plano Paulson europeu

Não é a criação ou não de um fundo europeu para salvar os bancos em risco de falência que impede a Europa de ter uma resposta comum para a actual crise.

A oportunidade e necessidade de criação do dito fundo divide os analistas, mas mesmo os responsáveis europeus mais “comunitários” reconhecem que é praticamente impossível fazê-lo.

Primeiro, porque a UE não tem um orçamento federal de onde retirar o fundo. Segundo, porque mesmo que seguisse a proposta holandesa de o alimentar com 3 por cento do PIB de cada país, dificilmente os Vinte e Sete conseguiriam pôr-se de acordo sobre quais seriam os bancos “sistémicos”que dele poderiam beneficiar.

O maior banco da Letónia, país da UE exterior à eurolândia é sistémico? Todos os bancos alemães, ou ingleses, são sistémicos? Ou, por exemplo, será que os problemas do banco X ou Y são de solvabilidade – resultante de uma eventual má gestão – ou de liquidez? Aliás, na ausência de um regulador comum europeu, que confiança poderão ter os Estados na regulação que foi feita ao longo dos anos pelo país vizinho?

Aliás, não precisamos de ir mais longe: mesmo em Portugal, o ministro das finanças disse que a questão da relevância sistémica dos bancos nacionais será avaliada caso a caso, em função da situação. Um erro, do meu ponto de vista: todos os bancos deveriam ser considerados sistémicos, senão, onde está a confiança?

Mas basta projectarmos o discurso de Teixeira dos Santos para o contexto europeu: de cada vez que um banco estivesse em risco de falência, ainda a discussão estaria no adro ao nível dos Vinte e Sete e já o dito banco estaria de rastos. Imaginem o descalabro...

Por isso, quanto mais os europeus falarem de fundo ou não fundo, pior é a imagem que dão para o exterior, precisamente o contrário do discurso de serenidade e confiança que afirmam querer assumir.

Dito isto, mesmo sem fundo, nada impede os europeus de terem uma resposta comum para a crise. Bastaria, por exemplo, que todos assumissem o mesmo discurso sem ambiguidades, em torno de dois eixos centrais: todos os depósitos estão garantidos e todos os bancos solventes com problemas de liquidez serão salvos. Se necessário, com a ajuda dos outros países da UE.

Sem estas garantias, como é que podem esperar injectar confiança no sistema financeiro?

Mesmo se o salvamento dos bancos será sempre uma responsabilidade nacional, a preservação da totalidade do sistema financeiro é do interesse de todos. Os europeus não se cansam de criticar o facto de o governo americano ter deixado cair o Lehman Brothers, que provocou um efeito dominó de profunda desconfiança na totalidade do sistema. Se acontecer o mesmo na Europa, o efeito de dominó será inevitável.

Dizem os especialistas que quanto mais tarde os europeus derem garantias firmes nestes dois sentidos, mais elevado será o preço que terão de pagar se, de facto, um banco importante vier a falir. Temo que tenham razão.

11 comentários:

Anónimo disse...

Estamos actualmente a assistir à morte da UE.
A situação é simples, perante uma crise de proporções globais a UE não faz nem pode fazer nada.
E isto é o melhor que pode acontecer e é o que nos vai salvar!
Todos sabemos que um barco de casco único afunda ao primeiro rombo e é por isso que os cascos dos barcos são compartimentados de forma a, se houver um rombo, um compartimento inunda mas os não inundados ajudam o barco a flutuar.
Uma solução única para a crise é um barco de casco único, leva mais tempo a afundar mas acaba por afundar.
Soluções nacionais irão afundar alguns países mas, os que não afundarem ajudarão os que afundaram a recuperar.
Esta crise deve ser o melhor que nos aconteceu.
UE, descansa em paz...

Há ainda outro ponto importante... os bancos de alguns países, aparentemente portugueses e outros, não arriscaram tanto e, portanto não cresceram como os outros mas agora estão em melhor situação.

Só que se se ajudarem as entidades financeiras em crise, estas mantêm o crescimento que tiveram e acabam não tendo as consequências dos riscos que tomaram.

Isto, num mercado único chama-se concorrência desleal...

Anónimo disse...

Caro Raio,

Se nao fosse a UE, e o Euro em particular, a crise teria sido muito pior. Basta ver os Islandeses, que o raio sempre apontou como o exemplo a seguir, a quererem fixar o valor da moeda deles ao Euro. Muitos analistas preveem uma forte mudança da opiniao publica naquele pais no sentido da total uniao à UE. Por outro lado, a cooperação dos Estados Membros nesta area também é sem precedentes, ainda que sem resultados concretos por enquanto. A crise está a agir como um factor de união e de cooperaçao intensificada.

Portanto nao estamos de todo a assistir à morte da UE como sei que o raio gostaria, mas antes ao que poderá mesmo se tornar num elemento determinante na consolidaçao da Uniao. Para ja, a crise pode ser o factor que fará passar o tratado de Lisboa na Irlanda: a prespectiva de ter que sair da UE, em caso de Não, será demasiado assustador nestes tempos agitados.

Anónimo disse...

Caro Bernardo,

Sobre “ Se nao fosse a UE, e o Euro em particular, a crise teria sido muito pior”

Esta afirmação é curiosa e mostra o actual paradigma dos euro-fanáticos (sem ofensa), que é o seguinte:

Se qualquer coisa boa acontece é por causa da UE.
Se qualquer coisa má acontece podemos dar graças por estarmos na UE pois, se não estivessemos ainda seria pior.

Um raciocínio deste tipo não dá para contra argumentar...

Infelizmente raciocínios deste tipo estão a ser cada vez mais utilizados...

Há uma comentadora (Dr. Isabel Meireles) que uma vez teve a suprema lata de escrever no Expresso que se não fosse a UE Portugal estaria pior do que a Albania! Esta afirmação até foi retomada por Mário Soares durante a sua última campanha eleitoral.
Outra, de Mário Soares e de outros foi que se não estivessemos no Euro já cá tinhamos o FMI!
Esquecem-se de dizer é que se não estivessemos no Euro não estariamos na situação em que estamos e esquecem-se também de dizer que com o FMI pode-se negociar mas com o BCE não!

Todos estes raciocínos têm o defeito de não poderem ser nem provados nem rejeitados, são afirmações gratuitas de fanáticos com falta de argumentos.

Um abraço e não leves a mal os meus desabafos.

Anónimo disse...

Caro Bernardo,


Sobre “A crise está a agir como um factor de união e de cooperaçao intensificada.”

??? A crise está a ser tratada de forma bilateral envolvendo países da UE e países estranhos à UE, Estados Unidos, Japão, etc.

Mas o mau disto tudo é que se a UE entrar em jogo vamos todos pagar a crise e, nem todos estamos na mesma situação. Países como a Itália, Portugal, etc., estão em melhor situação do que outros e, pondo os governos a pagar a crise, o que acontece é que vamos pagar o risco que os outros tomaram e mais, beneficiaram desse risco.
Isto é, vamos assumir um risco que não corremos e, por não termos corrido esse risco não crescemos como os outros.
Esta crise é até um bom argumento para mostrar os malefícios da UE e, de nenhuma forma poderá servir para aumentar a coesão. A não ser aprofundado a metodologia anti-democrática da UE, a metodologia que diz que dizer “Sim” é que é bom e civilizado e que dizer “Não” é só apanágio de retardados, fascistas, comunas estalinistas, etc., etc.

Sim, caro Bernardo, não confundas desejos com a dura e crua realidade...

Um abraço

Anónimo disse...

Caro Bernardo,

Sobre a Islândia.

É um facto que alguns políticos islandeses, incompetentes e cobardes (Portugal de nenhuma forma tem o exclusivo deste tipo de políticos) já estão a dizer que mudaram de opinião e que é necessário considerar uma possível adesão da Islândia à UE.

Mas é pouco provavel que a opinião pública islandesa os siga. Para já a UE, vista da Islândia, ficou muito mal na fotografia.

É que quando a crise se declarou a Islândia começou por pedir ajuda á UE. A UE mandou-a passear. Depois foi pedir ajuda aos seus irmãos nórdicos, manos estes que reagiram da mesma forma.
A seguir tentaram os Estados Unidos que, numa solidariedade euro-americana também mandaram a Islândia passear. E o pior é que ela foi, foi passear a Moscovo onde foi recebida de braços abertos numa jogada estratégica magistral. A Rússia empata uns trocos e fica com um amigo numa posição estratégica do Atlântico Norte.

Claro que agora UE, States, etc., ficaram apreensivos. Foi bem feito.

Mas será que a Islândia está tão mal assim ou estamos a entrar numa de exagero para tentar convencer a Islândia a adrir á UE e, de caminho, permitir que Bruxelas ponha a pata no rico sector das pescas islandesas?

Na minha modesta opinião é o que está a acontecer. Fala-se sempre de que a banca comercial islandesa deve ao exterior oito vezes o PIB islandês. Será grave? Talvez não pois a Islândia e os islandeses investiram enormemente no exterior, no Reino Unido e noutros países. Eu próprio até conheço casos de investidores islandeses com investimentos em países aparentemente estranhos para a Islandia, de África à Europa Oriental.

É que o indicador importante não é o PIB, o indicador importante é o PNB (Produto Nacional Bruto) e deste ninguém fala...

Sim, caro Bernardo, não andes atrás de todas as petas que nos impingem...

Um abraço

Anónimo disse...

Caro raio,

“Esta afirmação é curiosa e mostra o actual paradigma dos euro-fanáticos (sem ofensa), que é o seguinte:

Se qualquer coisa boa acontece é por causa da UE.
Se qualquer coisa má acontece podemos dar graças por estarmos na UE pois, se não estivessemos ainda seria pior.”

Curioso, nós os euro-fanaticos muitas vezes nos queixamos dos governos nacionais porque aproveitam os bons resulatdos da UE para os apresentarem como deles e porque culpam a UE por problemas que eles proprios causaram… Acho que isto é mais vezes verdade do que a sua afirmaçao mas podemos ficar aqui a discutir isto eternamente…

E já agora porque é os politicos islandeses que apoiam a entrada na União são incomptentes e cobardes ? Parece-me um comentario injusto de alguém ao abrigo da crise (por estar na UE) e que não tem de correr ao supermercado antes que as prateleiras se esvaziem porque a moeda ja nao vale um charuto e nao consguem importar...

Anónimo disse...

Caro Bernardo,

"Curioso, nós os euro-fanaticos muitas vezes nos queixamos dos governos nacionais porque aproveitam os bons resulatdos da UE para os apresentarem como deles e porque culpam a UE por problemas que eles proprios causaram…"

Sim, os integracionistas estão sempre a queixar-se disto.
Só que há um problema, pelo menos em Portugal nunca vi nenhum membro de nenhum governo atribuir culpas à UE seja pelo que for.

Seria interessante que desses um exemplo.

De qualquer forma isto, mesmo que fosse verdade, de nenhuma forma invalida a minha afirmação.

"E já agora porque é os politicos islandeses que apoiam a entrada na União são incomptentes e cobardes ?"

É evidente, ao primeiro problema em vez de deitarem mãos á obra para o resolverem, assustam-se, têm medo do futuro e consideram a entrega do seu país a uma potência estrangeira!

É que, mesmo que se seja favorável à entrada da Islândia na UE, poder-se-ía ter negociado a adesão antes ou então esparavam-se uns tempos até se resolverem os problemas.

Uma adesão neste moimento seria catastrófica pois a Islândia está em má situação para negociar a adesão. Seria comida em toda a linha.

"Parece-me um comentario injusto de alguém ao abrigo da crise (por estar na UE) e que não tem de correr ao supermercado antes que as prateleiras se esvaziem porque a moeda ja nao vale um charuto e nao consguem importar..."

Nós não estamos ao abrigo da crise. E se estamos um pouco melhor que outros não é certamente por estarmos na UE! Com que direito é que escreves isto como se fosse uma verdade evidente?

Portugal está um pouco fora da crise exactamente por ser um país periférico, um out sider que não está a fazer nada na UE. O nosso Ministro das Finanças deixou mesmo entender isto hoje na sua entrevista televisiva.

Quanto à Islândia lê o que escrevi acima. A Islândia está com problemas graves mas não deve estar tão mal assim.

Não quero refugiar-me em teorias da conspiração mas, alguns factos recentes, podem levar-me a pensar que a Islândia estar a ser brutalmente atacada por interesses europeus com dois objectivos:

1) Verga-la de forma a obriga-la a aderir à UE;

2) Destrui-la para mostar a irlandeses e outros a desgraça que é estar fora da UE.

A favor desta minha interpretação tenho as atitudes de Gordon Brown que utilizou a Lei anti-terrorista para tramar a Islândia e também outros factos como já se estar a sublinhar na Irlanda que, se não fosse o Euro a Irlanda estaria na mesma situação da Islândia.

Bom, fico por aqui mas, não quero acabar sem referir que estou á espera dos exemplos que referi no início deste post.

Um abraço

Anónimo disse...

Venho aqui só para comentar o facto de que o nosso amigo Bernardo, depois de lançar uma das acusações vulgares nos adeptos da UE a todo o custo foi desafiado para dar um exemplo do que dizia.

O resultado parece ter sido o de ter perdido a vontade de voltar a colocar comentários neste blog...

Não estou espantado...

Anónimo disse...

Caro raio
Nao tenho o habito de guardar todos as noticias que vejo sobre este assunto mas lembro-me por exemplo das manifestaçoes dos pescadores italianos e franceses contra a UE por causa dos combustiveis (nao regulado pela UE e que os governos em questao se esqueceram de sublinhar), ou do governo inglês que recentemente culpou explicitamente a UE pelo aumento que vao fazer da idade da reforma ate aos 65 anos (quando a UE nunca decretou nada neste sentido). Outros exemplos não faltam.

Anónimo disse...

ja agora, nao sei o que faz na vida mas eu nao me posso dar ao luxo de comentar blogs todos os dias, por mais interessantes que sejam.

Anónimo disse...

Sobre a idade de reforma, a UE não colocou, que eu saiba, limites mas recomendou o seu aumento.

Quanto aos impostos sobre o combustível creio que desce-los iria contra a política comunitária.

Mas eu gostaria de conhecer um exemplo doméstico.

Eu não comento blogs todos os dias mas quando tenhouma resposta a um comentário, recebo-o por mail e tento responder-lhe.