É suposto o sistema de ensino em Portugal ter melhorado nos últimos anos, como afirma um relatório que é hoje publicado pela Comissão Europeia. Fico contente.
Só que os anexos ao mesmo relatório avançam com uma série de dados altamente preocupantes: Portugal continua a ter a taxa de abandono escolar mais elevada de toda a União Europeia (UE), incluindo os países de Leste: 36,3 por cento dos portugueses entre os 18 e os 24 anos não tinha, em 2007, mais do que o ensino secundário "inferior". Em 18 países, são menos de 15 por cento na mesma situação.
Já os portugueses entre os 20 e 0s 24 anos que tinham, igualmente em 2007, concluido o ensino secundário, não passavam de 53,4 por cento. Em mais de metade dos países da UE (17) a taxa dos que concluiram o secundário é superior a 80 por cento...
Tão complicado como estes números é o facto de só 4,4 por cento dos portugueses entre os 25 e os 64 anos seguirem uma actividade de educação ou formação profissional - destinada a compensar a falta de qualificações à partida. Na Dinamarca, o país da "flexi-segurança", são 29,2 por cento...
Diz a Comissão que "a próxima década verá uma procura crescente de mão de obra altamente qualificada e adaptável”, de tal forma que “a proporção de empregos que vão requerer um elevado nível de qualificação educacional deverá aumentar de cerca de 25 para mais de 30 por cento”. E que, no curto prazo, “melhorar a empregabilidade é uma das prioridades chave para enfrentar os impactos esperados da actual recessão económica e colocar a Europa na via da recuperação”.
Como é que vamos conseguir?
3 comentários:
Respondendo à pergunta final:
Não vamos. Não vamos, não queremos, não conseguiamos mesmo que quiséssemos.
Estes ultimos anos demonstraram que o ensino público é impossivel de reformar. Ora como não existe ensino privado em escala suficiente para acudir sequer à classe média, vamos continuar a ter umas decadas disto.
A preocupação da autora é justificada (o desnível a recuperar continua enorme), mas não reflecte os progressos que têm sido feitos em Portugal, a partir dos níveis de desqualificação abissais que herdámos da História portuguesa do Séc. XX.
As instituições UE reconhecem aliás os passos já dados por Portugal, em ritmo superior à média da UE(*), excepto quanto ao abandono escolar.
Mesmo neste aspecto, se é verdade que "os portugueses entre os 20 e os 24 anos que tinham, igualmente em 2007, concluido o ensino secundário, não passavam de 53,4 por cento", convém lembrar que este valor era de 49% em 2004 e de 42,8% em 2000(**).
Um salto de 42,8% para 53,4% em 7 anos é algo muito respeitável em qualquer parte do mundo; não o reportar é - involuntariamente - contribuir para a nossa endémica depressão nacional. E não é colectivamente deprimidos que conseguiremos prosseguir o esforço para resolver os problemas bem identificados pela autora: enquanto há vida, há esperança.
M.
(*) vide por exemplo o "Rapport d'étape conjoint 2008 du Conseil et de la Commission sur la mise en oeuvre du programme de travail "Éducation et formation 2010": "L'éducation et la formation tout au long de la vie au service de la connaissance,
de la créativité et de l'innovation" (doc. 5723/08 EDUC 29
SOC 46)" no quadro da pág. 24 "VUE D'ENSEMBLE DES PROGRÈS DANS LES DOMAINES LIÉS AUX CINQ CRITÈRES DE RÉFÉRENCE (BENCHMARKS)Vue d'ensemble concernant les trois critères de référence relatifs au niveau scolaire")
(**) Percentage of the population aged 20-24 having completed at least upper-secondary education, 2000-2005, in "MODERNISER L'ÉDUCATION ET LA FORMATION: UNE CONTRIBUTION ESSENTIELLE À LA PROSPÉRITÉ ET À LA COHÉSION SOCIALE EN EUROPE
RAPPORT INTERMÉDIAIRE CONJOINT 2006DU CONSEIL ET DE LA COMMISSION SUR LES PROGRÈS RÉALISÉS DANS LE CADRE DU PROGRAMME DE TRAVAIL «ÉDUCATION ET FORMATION 2010» (2006/C 79/01), in Journal officiel de l'Union européenne 1.4.2006, C 79/1"
Parece-me que os eurocratas portugueses gostam muito de dizer em Bruxelas que os portugas são todos analfabetos.
Imagino que o objectivo seja o de aumentar a quantidade de fundos estruturais aqui para a "Coitadinholandia".
Tenho conhecido alemães, belgas e holandeses que me perguntam se, por ser português, se sei ler e escrever! (lol)
Uma amiga que trabalha na União Europeia como tradutora (não é portuguesa), disse-me várias vezes que lhe dizem que a taxa de analfabetismo vem Portugal é de 70% (lol)
Isto demonstra o nível de mentiras que circula na Europa e em Bruxelas em particular.
Apesar de ter-mos uma das/a taxa de abandono escolar mais alta da Europa, o nº de analfabetos siua-se nos 5/7%. Não confundam analfabetos funcionais (que há tantos em toda a Europa), com analfabetismo absoluto.
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