Ao bloquear a eventualidade de David Miliband, o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, vir a ser o próximo Alto Representante para a Política Externa da União Europeia (UE), Gordon Brown, primeiro ministro britânico, está em risco de provocar a implosão da candidatura do seu homólogo belga, Herman Van Rompuy, à presidência do Conselho Europeu.
Não há dia que passe sem que Brown ou os seus próximos não defendam - sozinhos - o nome de Tony Blair para presidente do Conselho Europeu. De cada vez que é confrontado com a questão, Brown afasta de forma seca e quase desagradável o cenário Miliband. E insiste que "o único candidato do Reino Unido" ao que quer que seja é Tony Blair. Ponto final.
Será uma posição para consumo interno? Ou uma forma de ganhar capital de queixa para uma compensação qualquer? Ou, finalmente, uma manobra táctica para bloquear Van Rompuy?
Seja qual for a razão, é esta terceira hipótese que está efectivamente em risco de se materalizar.
Para a generalidade dos outros países, a combinação Van Rompuy / David Miliband constitui a melhor equipa possível para garantir um arranque harmonioso do Tratado de Lisboa. O duo tem a vantagem de permitir o equilíbrio político e geográfico pretendido pelos Vinte e Sete para os cargos de tipo da UE: um presidente do Conselho conservador de um pequeno país e um Alto Representante socialista de um grande país, que se juntariam a um presidente da Comissão Europeia de um pequeno país do Sul - Durão Barroso - e a um presidente do Parlamento Europeu do mais populoso dos países de Leste.
O receio de vários países, confiou um diplomata europeu, é que a insistência de Brown anule efectivamente a equação Van Rompuy, obrigando os lideres a procurar uma solução alternativa. O que seria uma pena, porque Van Rompuy, com o seu estilo de "sábio" (no sentido de "sage" europeu) tem o perfil certo para presidir ao Conselho Europeu - digam o que disserem os fãs incondicionais de Blair.
O que é certo, reconheceu outro diplomata europeu, é que quanto mais tempo passar até à decisão dos lideres, maiores serão os obstáculos no caminho de Van Rompuy. (A presidência sueca da UE prepara-se para anunciar amanhã quando é que pretende realizar a cimeira especial necessárias para a escolha dos nomes).
O risco é que Brown esteja a sofrer da doença do mimetismo que ataca regularmente os responsáveis europeus: os seus dois antecessores, John Major em 1994 e Tony Blair em 2004, bloquearam dois candidatos belgas à presidência da Comissão Europeia (Jean-Luc Dehaene e Guy Verhofstadt, respectivamente). Em ambos os casos porque os dois eram considerados excessivamente federalistas em Londres, e tinham o apoio de Paris e Berlim.
Pode muito bem acontecer que Gordon Brown - que sabe que só por milagre ganhará as próximas eleições legislativas no Reino Unido, em Março de 2010) não queira aparecer perante o eleitorado como o "mole" que quebrou a tradição dos vetos britânicos aos candidatos belgas ...
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