terça-feira, 4 de setembro de 2007

Lá se vai o Tratado de Lisboa ...

Está visto que a Polónia está mesmo decidida a estragar a festa à presidência portuguesa da UE... Desta vez são as eleições legislativas antecipadas que estão em vias de impedir a conclusão de um acordo entre os Vinte e Sete países da UE sobre o novo Tratado europeu (reformador, de Lisboa, ou lá o que vier a chamar-se) durante a cimeira de Lisboa de 18 e 19 de Outubro.

Depois de ter dito cobras e lagartos contra o Tratado em Junho, quando os Vinte e Sete negociaram o respectivo mandato de negociação, como é que o primeiro ministro, Jaroslaw Kaczynski, poderá agora aceitar o seu conteúdo em plena campanha eleitoral?

O problema é que na melhor das hipóteses, as eleições decorrerão a 21 de Outubro; na pior, em Novembro (deveremos ficar a saber ao certo na sexta-feira).

Em Junho, a retórica de Kaczynski contra o Tratado – e concretamente contra o novo cálculo da maioria qualificada para as decisões do conselho de ministros da UE – resultou em grande parte das ameaças de abandono do governo por parte dos seus parceiros de coligação fortemente eurocépticos, a Liga das Famílias polacas e o partido Auto-Defesa.

A crise acabou por estalar em Agosto, e os três partidos estão agora em concorrência aberta para conquistar o eleitorado mais conservador e anti-europeu.

Alguém acredita que Jaroslaw poderá aceitar o Tratado nestas condições ?

Pelo menos Luis Amado, ministro dos negócios estrangeiros, parece não acreditar: “admito que a situação política interna [da Polónia] possa colocar alguns problemas, designadamente no calendário”, disse hoje em Estrasburgo.

Face à conhecida prudência extrema deste ministro, a afirmação é quase uma constatação de fracasso.

Já Cavaco Silva, igualmente em Estrasburgo, mostrou-se decididamente optimista: em sua opinião, o facto de a Polónia ter aceite em Junho, como os outros vinte e seis países, um mandato de negociação que previa um calendário de conclusão do processo na cimeira de Lisboa, significa que este terá de ser cumprido. “Os calendários europeus não podem ficar sujeitos aos actos eleitorais”, defendeu, convicto. Puro “wishfull thinking”...

Resta, claro, a cimeira de Dezembro, em Bruxelas, para a conclusão do Tratado, altura em que a crise polaca deverá estar resolvida. Só que se assim fôr, a presidência portuguesa da UE ficará praticamente reduzida às negociações institucionais, para grande frustração do governo. E o texto terá boas possibilidades de ficar conhecido como Tratado de Bruxelas e não de Lisboa, como a presidência gostaria

A menos que José Sócrates decida convocar nova cimeira extraordinária, de novo em Lisboa, logo a seguir à resolução da crise polaca para garantir o nome ...

2 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado Polónia!

Unknown disse...

Também aproveito para enviar os meus agradecimentos à Polónia!