quinta-feira, 6 de setembro de 2007

A visão europeia de Cavaco Silva

O momento forte da visita de dois dias que Cavaco Silva fez esta semana às instituições europeias foi um discurso durante a sessão plenária do Parlamento Europeu. Estes momentos solenes são geralmente aproveitados pelos convidados, europeus ou não, para afirmar a sua visão da Europa ou do Mundo, livres dos constrangimentos do curto prazo ou da negociação em curso. Ao longo dos anos foram ouvidos em Estrasburgo inúmeros discursos daqueles que fazem história porque rasgam horizontes, traçam caminhos, ou lançam desafios. Em suma, que separam as águas entre os homens de Estado com H grande e os outros.

Depois de ouvir o discurso do Presidente, bom, só posso concluir que não fará história: a sua visão da Europa reduz-se praticamente às aspirações, problemas e pequenas vitórias de Portugal.

Cavaco começou por defender de forma enfática a “solidariedade” europeia, a denominação politicamente correcta dos fundos estruturais de apoio às regiões mais desfavorecidas da UE, de que Portugal é um grande beneficiário. Depois insistiu na necessidade de combater a pobreza e exclusão social – áreas em que Portugal mantém, ano após ano, os piores indicadores de toda a UE - para concluir o que estamos todos fartos de saber: as velhas políticas redistributivas nacionais estão esgotadas. Curiosamente, não avançou qualquer nova pista para a resolução do problema.

De passagem, o Presidente não se esqueceu de referir a importância da Agenda de Lisboa para o reforço da competitividade da economia europeia; a Comissão Europeia de Durão Barroso; o imperativo de realização em Dezembro, em Lisboa, de uma cimeira euro-africana; e, last but not least, a necessidade de concluir o novo Tratado europeu na cimeira dos Vinte e Sete de 18 e 19 de Outubro, igualmente em Lisboa.

Será que é assim que se traduz a “especificidade portuguesa” na Europa de que os nossos lideres tanto se orgulham?

13 comentários:

Rita disse...

falta de ambição, falta de convicção,
falta de liderança e visão a longo prazo...ganhar tostões para tentar vender que se ganhou uma fortuna...

é essa a especificidade portuguesa?

Anónimo disse...

Ao fim de uma delapidação que já vai em mais de 30 anos ainda se repetem as mesmas palavras vãs. Tristeza de país...

pessoana disse...

Um blogue de Bruxelas sobre a Europa? Gosto disso!

O Cavaco sente-se provavelmente encavacado na cavaqueira europeia (mais uma especificidade portuguesa).

Anónimo disse...

Cavaco é um presidente à altura do país. Coisa que não sei se diz pior de um ou do outro.. Mas Cavaco que não pense que o seu ataque ao modelo social europeu vinga para lá do rectângulo, aliás, Portugal é o melhor exemplo pelo qual a Europa não deve avançar nesse sentido, os resultados estão à vista por aqui!

Anónimo disse...

O doutor Cavaco Silva não apareceu na cena política ontem, as suas capacidades e limitações são bem conhecidas e é bem sabido que fazer discursos empolgantes ou soltar soudbytes não é o seu forte, mas não percebo porque é que isso o deveria diminuir em termos de estatura política.

Se é assim noutras coisas não percebo porque o criticam por não o ter feito sobre a Europa.

Mas entre os seus méritos está o de ter contribuído e muito para o desenvolvimento do país e ter sabido aproveitar os fundos de Bruxelas. Dizem que gostava mais de betão do que de educação, mas a verdade é que se não fosse aquele betão todo de Bragança a Lisboa ainda seriam 10 horas de distância, como cantava o outro.

E parece-me ainda que o presidente português fez muito bem em alertar para questões como a pobreza e a exclusão numa altura em que a Europa e o governo vivem obcecados com défices e Tratados de utilidade duvidosa.

E em algumas coisas pareceu-me bem mais à esquerda que o governo de Sócrates.

Anónimo disse...

Que raciocínio tão interessante, Maria Bello!Então na sua opinião, lá porque as limitações do Sr Cavaco Silva são conhecidas, simplesmente não podemos esperar que desempenhe as funções de representante do nosso país com alguma eficácia? A intervenção do Presidente não trouxe nada de novo, o que me leva a achar que desperdiçou uma oportunidade. Isto já para não falar da ridicularização de ter sido confrontado pelos jornalistas com o facto de aquilo que advoga está muito longe do que é feito no seu país.
Os portugueses têm a memória curta, sem dúvida. Para confirmar que a utilização que Cavaco deu aos fundos europeus foi boa, mas tão boa, tão boa, basta comparar a evolução de Portugal com a de Espanha ou Irlanda, que partiram de pontos relativamente próximos anetes de receberem os referidos fundos.

E já agora, não eram 10, eram "9 horas de distância".

Anónimo disse...

Cara spruitje,

dê-me só um exemplo de uma intervenção de um chefe de estado no PE que tenha trazido algo de novo. só se estiver a pensar num muito badalado discurso de Tony Blair que convenceu toda a gente de que o Reino Unido tinha abandonado o eurocepticismo e depois foi o que se viu.

e, se não for pedir muito, diga-me o que é que o PR devia ter dito para ser considerado "novo".

e sim, Portugal ficou melhor em 1995 do que estava 10 anos antes, só não o reconhece quem tem má vontade ou está há demasiado tempo fora do país.

lamento a confusão entre as 9 e as 10 horas, quem gosta de xutos e pontapés lá em casa são os meus filhos.

Isabel Arriaga e Cunha disse...

Cara Maria Bello, é um bom exemplo (mas obviamente não o único) esse que deu do tal muito badalado discurso de Tony Blair: ninguém pensou que ele tivesse abandonado o eurocepticismo, nem as suas teses convenceram muita gente, mas pelo menos mostrou que tinha uma verdadeira visão da Europa, e do papel do seu país na Europa. Não foi por acaso, aliás, que os deputados europeus, que o tinham acolhido no PE com grande frieza (Blair tinha acabado de bloquear um acordo sobre as perspectivas financeiras da UE, lembra-se?) acabaram a ovacioná-lo de pé...

Anónimo disse...

Cara Isabel Arriaga e Cunha,

As capacidades oratórias do senhor Blair eram e são sobejamente conhecidas.

Eu prefiro um político que mesmo não sendo "empolgante" seja eficaz e sério, do que um que seja capaz de enfeitiçar os que o ouvem com belas palavras que não sejam secundadas pelos devidos actos.

E duvido que essa "visão europeia" que foi aplaudida de pé incluisse referencias ao que ele viria a fazer depois com as negociações da Constituição. Primeiro assinou e depois veios exigir uma série de mudanças que alteraram grande parte do valor do documento.

E as culpas ficaram para os polacos que, vejo, voltam a ser os bombos da festa.

Por isso, se para si ter "visão" é fazer lindos discursos e depois sabotar tudo alegro-me que considere que o doutro Cavaco não sofre desse mal "visionário".

Anónimo disse...

Portugal melhorou com a integração europeia, é certo. Mas agora tem estado a piorar. Quem são os responsáveis disto?
Certamente que em grande parte internos. Certamente que a conjuntura também não é favorável (petróleo)
Mas também é a UE, grande responsável. Portugal é discriminado na UE. Como tal, devemos sair da UE, caso muitas políticas não mudem (CAP, ETS, pescas, taxas de juro única, alargamentos à pressão que não param, entre outras)
A minha visão da UE é funcional, não é dogmática. A UE não é um país.
Se nós ganharmos com a permanencia, sou a favor. Se nós perdermos, sou contra. Simples e lógico, não?

Schlumpy disse...

Não me espanta absolutamente nada a intervenção do nosso Presidente. Há muito tempo que nenhum líder português trás algo de novo. Talvez o último tenha sido o D. João II...

A falta de visão dos políticos portugueses é aliás assustadora.
No entanto, se algum deles ler estes comentários, desafio qualquer um dos políticos a responder a duas simples questões:
O que é que Portugal quer ser daqui a 20 anos? E o que vai fazer para o conseguir?

Unknown disse...

joao eu céptico escreveu:

"Se nós ganharmos com a permanencia, sou a favor. Se nós perdermos, sou contra. Simples e lógico, não?"

Isto é uma evidência, aquilo a que se chamaria uma verdade à amigo banana.

Mas o que é espantoso é que há quem ignore totalmente isto, mais, há quem esteja disposto a sacrificar Portugal (e os portugueses) no altar da integração europeia, ainda por cima sem perguntarem aos portugueses o que eles pensam.

E estas pessoas são de vários quadrantes políticos, do BE ao CDS. A única coisa de comum que há entre eles é geralmente estarem bem na vida. Isto é, cuidaram do seu futuro e dos seus haveres antes de lançarem o "sacrifiquemo-nos pelo ideal europeu"...

Anónimo disse...

N�o conhecem Portugal!!!
10h de viagem de Lisboa a Bragan�a feitas de avi�o.
De carro, 24h n�o eram suficientes.