quinta-feira, 22 de abril de 2010

Carlos Costa

É uma situação rara, mas a unanimidade do sector económico e financeiro – e mesmo dos partidos políticos – a favor da nomeação de Carlos Costa para governador do Banco de Portugal (BP), fala por si.

De Nogueira Leite – “muito boa escolha” – a Artur Santos Silva – “excelente escolha”, passando por Ricardo Salgado – “um banqueiro muito importante, experiente, que reúne todas as condições para ser um grande governador do Banco de Portugal” - os elogios choveram ontem sobre a escolha do governo.

Talvez o melhor resumo seja o de João Deus Pinheiro (que, bom, não é o melhor juiz ...) , de quem Carlos Costa foi chefe de gabinete durante os sete anos em que foi comissário europeu: "isento, super-trabalhador, brilhantíssimo, independente, de uma lealdade a toda a prova e de uma simplicidade enorme", segundo disse ao Jornal de Negócios.

Não sei como é que o visado será como Governador do BP, mas no que se refere à construção europeia, não é demais dizer que foi uma peça fundamental para Portugal desde a adesão à União Europeia (UE).

Carlos Costa é porventura o português que mais sabe de UE, e não apenas por ter lidado com ela a partir de várias instituições comunitárias: Conselho de Ministros, Comissão Europeia e, actualmente, Banco Europeu de Investimentos.

O mais importante foi, por exemplo, ter conduzido em nome do governo português negociações tão cruciais com a ronda orçamental de 1988 – mais conhecida por Pacote Delors I – que permitiu a primeira duplicação dos fundos estruturais nos países mais pobres da UE. Nessa matéria teve, nomeadamente, um contributo decisivo em questões como a concepção do novo recurso orçamental baseado no PNB então criado, ou a argumentação em favor dos fundos estruturais como contrapartida do mercado interno europeu. Cavaco Silva, na altura primeiro ministro, não dava um passo nestas matérias sem o consultar.

Também foi ele que negociou, de novo em nome do governo português, o Tratado de Maastricht na vertente da União Económica e Monetária – com um contributo fundamental por exemplo na concepção do princípio, e regras, da igualdade de acesso de todos os países à moeda única.

Ele é um daqueles portugueses de cinco estrelas, respeitadíssimo nas instituições europeias, que tem sido estupidamente subaproveitado pelos nossos governantes

Pelo conhecimento profundo que tem da UE e dos seus protagonistas, de certo modo é pena que deixe o circuito europeu...

Mas também é verdade que, enquanto governador do BP, vai integrar o conselho dos governadores do Banco Central Europeu (BCE). O que já não é nada mau...

15 comentários:

A.Küttner disse...

Talvez aqui também se deva o Titulo do post anterior:
FINALMETE BOAS NOTÍCIAS.

De facto parece que temos "aqui e agora " uma Pessoa com:
- categoria, conhecimentos, perfil, para estar à frente do Banco de Portugal.

Temos que saber ser positivos, até na forma de o ajuizar, dia, a dia.

Mas será por certo, a Pessoa mais indicada para este momento nada facil.

A.Küttner

Anónimo disse...

Por tudo o que conheço pessoal e institucionalmente é efetivamente uma boa escolha. Sei das negociações institucionais e também das financeiras. Oxalá a distinta carreira europeia ajude a que leve para Portugal mais sensatez na escolha das prioridades do país -- Portugal não é nem está como a Grécia, mas não há espaço para complacências nem para (mais) escolhas erradas (como o TGV, nas actuais circunstâncias).
W.Hallstein

A.Küttner disse...

Caro W.Hallstein

Penso que o seu testemunho é muito oportuno, quer conhecendo o Carlos Costa e dando a sua opinião positiva, que vem ajudar ao que a Isabel escreveu e à impressão que todos temos do novo presidente do BdP.

Quanto ao TGV, como um novo Aeroporto, tem 100% de razão. Durante os próximos 10 anos, nada fazer e nem sequer mais nisso falar...esquecer e mais tarde pensar.

E teremos muito para recuperar desde monumentos a caírem, estradas e ruas cheias de buracos, etc etc, tudo ao nosso tamanho, tudo à nossa dimensão tudo à nossa utilidade e utilização.

De facto não somos a Grécia, logo temos que aproveitar bem o que ainda somos.Enquanto é tempo.

A.Küttner

Augusto Küttner de Magalhães disse...

SERVIÇO DIPLOMÁTICO EUROPEU GANHA FORMA

Isabel

Estava a ler o seu texto de hoje no Público e tive dois pensamentos, se e quando possível, mesmo que no Público, por favor vá-nos ajudando a melhor perceber:
- Positivo, arrancou de facto um serviço central Diplomático Europeu!
- Menos positivo, haver algumas dúvidas quanto à sua formação/composição!
- quanto ao Pessoal. Transita algum de embaixadas dos Países – membros, para não haver duplicações e para de facto haver representatividade?

Gostei de a ler.

Um abraço

Augusto

Unknown disse...

A nomeação de Carlos Costa para Governador do Banco de Portugal é uma jogada inteligente do governo.

Primeiro porque irá fazer um bom lugar, o que não é difícil depois do desastre que foi o Vitor Constâncio. A saída do Vitor Constâncio foi mesmo a primeira acção positiva, que me lembre, do BCE a Portugal.

Depois porque é uma pessoa com um curriculo europeu irrepreensível, passe uma pequena nódoa, o de ter sido Chefe de Gabinete do Deus Pinheiro mas, enfim, ninguém é perfeito.

E o que o Governo deve pretender é acalmar os mercados e mostrar a todos que à frente de Portugal está um Governo subserviente e capaz de sacrificar o país vendendo anéis e dedos (PEC) e colocando à frente do seu Banco Central alguém que merece total confiança da mafia, sorry, do establishment europeu.

Esta estratégia até seria aceitável e teria todo o meu apoio se não fosse sincera e não passasse de uma manobra para ganhar tempo.

Infelizmente creio que, mesmo que o PSD e o BE insistam em que o Sócrates é mentiroso, ele não o é, é honesto e sincero o que é péssimo...

Quanto ao estilo norte-coreano dos elogios a Carlos Costa, chamou-me a atenção o texto de W.Hallstein que,depois de elogiar o Dr. Carlos Costa lá vem com a estafada historia do TGV, como se o Banco de Portugal tivesse qualquer coisa a ver com a política de investimentos do Governo.

Seria péssimo se tivessemos à frente do BdP alguém que se arrogasse o direito de se meter na esfera governativa!

Claro que o nosso caro amigo A.Küttner vem logo a seguir apoiar entusiasticamente a paralisia, como se isto tivesse, mais uma vez, qualquer coisa a ver com a matéria em apreço.

É que estes dois distintos comentadores são nitidamente tipocratas, isto é, adeptos da tipocracia, governo tip, de Travagem, Integração, Paralisia...

A.Küttner disse...

Caro Raio

Essa dos dedos e dos aneis, é do Mário Soares, na ultima entrevista!!!

Quanto ao Carlos Costa, não tenhamos dúvidas que é competente, mas deixem-no trabalhar!!!

Quanto ao Vitor Constancio, penso que o grande erro, foi não ter deixado cair o BPP logo, sem ajuda, quanto ao BPN apesar de tudo se o não ajuda-se, hoje estávamos como a Islandia.

A.Küttner

A.Küttner disse...

Ajudasse!!!!!

Unknown disse...

"Essa dos dedos e dos aneis, é do Mário Soares, na ultima entrevista!!!"


Não li nem vi essa entrevista do Mário. lamento mesmo dizer que quando certas personagens me poluem o écran da minha TV (o Mário, o Senhor Silva, o Medina Carreira, etc.) mudo logo para o AXN...

"Quanto ao Carlos Costa, não tenhamos dúvidas que é competente, mas deixem-no trabalhar!!!"

??? Este tipo de frase é demagógico. Ou não tivesse sido dita em tempos pelo Senhor Silva...
Um dos trabalhos dos cidadãos que se encontram em certos cargos passa pelo contacto com os outros, inclusivé com a Comunicação Social, respondendo a ataques e críticas.

"Quanto ao Vitor Constancio, penso que o grande erro, foi não ter deixado cair o BPP logo, sem ajuda"

Suponho que isso nem seria da esfera de competências exclusivé do Governador do Banco de Portugal.
O grande erro do Vitor nem foi erro, foi uma atitude de subserviência aos bancos, saltando por cima da regulação e permitindo-lhes todos os golpes.
Se o Vítor tivesse exercido as suas funções, em vez de andar a apaparicar bancos e governos com cálculos fantasiosos, nunca o BPN nem o BPP teriam chegado à situação a que chegaram.

"quanto ao BPN apesar de tudo se o não ajuda-se, hoje estávamos como a Islandia."

???? Tomara nós estarmos como a Islândia! Aconselho umas férias por lá para ver como é que aquilo vai. E já agora aproveita-se para um mergulho na Blue Lagoon... (http://www.bluelagoon.com/)

A Islândia cometeu erros ao desregulamentar a actividade bancária e a pensar que se poderia transformar numa mini-suiça, esquecendo que a Suiça tem séculos de experiência no campo bancário e quadros preparados e excelentemente habilitados. A Islândia não os tinha e entregou os seus bancos a aprendizes de feiticeiro.
Depois foi vitima de um ataque feroz do Reino Unido e da Holanda que mostraram desconhecer o que são empresas privadas.
Mas não errou em tudo, não aderiu à UE nem largou a sua moeda. Está a recuperar melhor e mais rapidamente do que a Irlanda, por exemplo. Por qualquer razão já ninguém fala da Islândia a não ser por causa daquele vulcão com um nome impronunciável...

a.küttner disse...

Caro Raio

Quanto a canais de TV estamos na mesma, eu nem sequer vejo os "habituais", vejo AXN, mas leio o Expresso, o Público, e de quando em quando a Visão.

Quanto ao Medina Carreira, profeta da desgraça também estamos de acordo, mas penso que se passa com 90% dos portugueses.

Quanto ao Mário Soares, acho que teve imenso valor nas História do País e até da Europa, mas hoje devia não intervir...o seu tempo já foi...hoje deve ensinar...mas nunca intervir....
Mas é dificil, penso, deixar de se querer estar sempre no Centro....quando merecidamete se esteve, muito tempo!!!

Quanto ao BPP e ao Bpn, convém responsabilizar cada cidadão pelo que faz. Se tudo fosse sempre tão fácil, os outros bancos não teriam quaisquer clientes dado que valia, rendia, dava muito mais ter o dinheiro naqueles bancos que nos outros todos!! não daria para se pensar porquê?? não se poderia/deveria pensar que houve D. Branca e não só? ou quando corre bem vai tudo bem, quando corre mal a culpa nunca
é nossa!!??

A Islândia ainda há dias queria entrar na UE!!!!!!!

a.küttner

Unknown disse...

"A Islândia ainda há dias queria entrar na UE!!!!!!!"

O partido da Primeira Ministra quer entrar na UE, mas o outro partido da coligação no governo não.

De qualquer forma as sondagens indicam que um referendo para a adesão daria origem a um rotundo "Não".

Quanto ao BPN e ao BPP e embora ache que o Vitor tem muitas culpas, acho que o governo deveria te-los deixado cair.

Os depositantes e accionistas podiam depois processar o Vítor...

A.Küttner disse...

Como é evidente, este seu comentário, não tem resposta!!!

Unknown disse...

"Como é evidente, este seu comentário, não tem resposta!!!"

??? Pois é, o problema é que a probabilidade da Islândia alguma vez entrar para a UE é diminuta. Felizmente para eles.

a.küttner disse...

Olhe que não! olhe que não!

Unknown disse...

"Olhe que não! olhe que não!"

Esta frase foi dita há umas dezenas de anos num célebre debate da TV.

No caso em apreço, terá o mesmo destino da anterior...

a.Küttner disse...

Hoje algumas incertezas existem, e o "olhe que não" teve piada na altura, e resultou.
E dentro de tanta insegurança, sentirmo- nos - emos, mais seguros, quanto maiores formos, e como hoje, já está TUDO EM TODO O MUNDO descoberto e conquistado, o crescimento necessario, só se faz em União, com União!!!

Logo todos, tantos por cá querem entrar....