Pelas reacções ao meu último post, percebi que há aqui um mal-entendido que quero desfazer rapidamente: o que eu disse a propósito do clip “Let’s come together” não tem nada, mas absolutamente nada, de puritano.
O meu comentário sobre a Comissão cair no ridículo tem unicamente a ver com o facto de ter sido quem foi a produzi-lo.
É que é preciso não esquecermos que esta é uma das instituições mais herméticas que existe, e que produz todos os dias, ou quase, propostas, comunicações, livros verdes e brancos e mais relatórios regularmente incompreensíveis. Se não fossem os jornalistas e a paciência com que procuram no quotidiano simplificar os detalhes das propostas para as tornar compreensíveis, e traduzir o “europês” para qualquer coisa de inteligível, a Comissão teria grandes probabilidades de estar a falar sozinha.
Foi o contraste entre esta realidade quotidiana e o tom do clip, que motivou o meu comentário. E que me faz desmanchar a rir sempre que o vejo.
Não duvido, claro, que para popularizar a imagem da Comissão, este clip seja um susexo!... Mas será que é assim que a Comissão pensa conseguir aproximar a Europa dos cidadãos?
20 comentários:
Agora percebo o seu comentário... Na realidade acho que o filme é sem dúvida cativamente para as classes mais jovens e meia idade, por isso pode ter o efeito de choque positivo! ou seja fazer acordar as pessoas para procurarem mais informacao sobre a EU... o que é necessário é essa info estar facilmente disponível e em portugues ou inglês que se perceba sem ser doutor... :)
Para não variar, também vai depender do país onde seja visionado ... na holanda é algo banal e por isso não tem o efeito de choque e surpresa ... em países tipo portugal ou frança poderá surtir mais efeito... a ver os resultados... de qualquer maneira estou a espera para ver qual a reacção do Vaticano a esta... :))
Tem toda a razão - o vídeo é ridículo.
Esta é uma das formas de se aproximar das pessoas sim cara Isabel. Com este vídeo a UE conseguiu pôr toda a gente a falar sobre o assunto (é o mais linkado dos últimos dias http://technorati.com/pop/youtube/), ou seja, o apoio da Comissão ao cinema europeu. E ainda conseguiu transmitir a ideia de um cinema sexy e ousado. Isto só não basta, claro, mas foi uma excelente forma de desempoeirar a imagem da UE. Não admira que tantos eurocépticos se tenham sentido ameaçados...
volto a dizer, não vejo porque é que a Comissão haveria de cair no ridículo.
só se for por se lamentar que, em vez de estarem a produzir Europa a sério, os conzentos dos eurocratas tenham canalizado alguma da sua energia e tempo para outra coisa que, por uma vez, não precisa de tradutores.
e mesmo que não contribua para aproximar a Europa dos cidadãos, sempre sugere a estes que, enquanto isso não acontece, podem ir-se aproximando uns dos outros.
Agora é que não percebo o seu comentário.Será que a Comissão para não ser ridícula, deveria ter assegurado a produção de um video hermético,incompreensível a necessitar da descodificação jornalística, como os tais textos por si referidos?
Quando,como no caso e na minha opinião, usa uma linguaguem clara, directa e ainda consegue juntar a isto uma qualidade videográfica de excepção, a Comissão só pode estar de parabéns.
Um pequeno aditamento ao post anterior.
A solução para a aproximação da Europa dos seus cidadãos não depende de uma qualquer solução final e milagrosa, deverá antes ser uma soma de parcelas e esta é uma parcela respeitante ao programa MEDIA que cumpre esse papel.
O que está a dizer, caro Leon? Que a linguagem do amor é universal? Às vezes até nesse domínio os tradutores são uma mais valia!
O comentário da Isabel ao vídeo faz todo o sentido.
O que está em causa não é o conteúdo (vulgar, aliás, mas isto é uma questão de opinião), mas sim estar ao arrepio da prática habitual da instituição e do seu mandato. Quando o comportamento muda completamente temos que estranhar.
Num namoro, a violação das regras implícitas estabelecidas nos primeiros meses são sempre entendidas como sinal de desamor. Ora estamos desde há muito casados com esta Comissão muito bem definida pela autora do Blog…
O que parece interessante é notar que, neste como em muitos outros assuntos, a Comissão anda a reboque de pequenos grupos de fazedores de opinião, que são diferentes em cada domínio e que estão longe de representar a sociedade europeia. Cai-se nesta situação de umas vezes as posições assumidas serem de “adiantamento mental”, noutras de um conservadorismo árido. Estaria tudo bem, se não mexesse com as nossas vidas.
Precisamos de uma reforma institucional de facto, mas, por favor, a começar pela democratização da Comissão.
a crítica a este vídeo só pode derivar de um puritanismo mais ou menos assumido.
se criticarem por ser imoral eu posso discordar, mas compreendo. agora dizer que é inapropriado?!
e os anúncios de bancos e da portugal telecom com os gato fedorento?
nessa lógica, os primeiros só poderiam mostar uns mangas de alpaca atrás de balcões e os segundos uns funcionários (talvez da CE) a telefonar alegremente para a casa distante em Portugal a preços mais reduzidos (duvido que precisem, mas enfim...).
estamos a falar de pu-bli-ci-da-de, não de tempos de antena, nem de comunicação institucional.
quer isto dizer que vale tudo e não há regras? claro que não. se forem ultrapassadas isso ressentir-se-á nas vendas do produto.
no estado em questão as vendas do produto europeu, não me parece que tenham muito a perder.
caro nos,
que considere vulgar excertos de filmes como Amelie Poulain, Breaking the Waves o La Mala Educacion, só pode ser explicado pela razão que invoco antes. se considera esses filmes vulgares, já faz sentido que tenha a mesma opinião sobre o clip em causa.
mas talvez eu percebesse melhor o que quer dizer se pudesse explicar esse seu namoro e casamento com a Comissão Europeia. principalmente aquela parte da "violação das regras implícitas" desse namoro.
cara spruitje,
mal andaremos se até nesse domínio forem necessários tradutores. a menos que o dito seja uma das partes envolvidas, claro.
Eu, puritano me confesso, pelo que acho esta apresentação má e despropositada! Tenho visto muito bom cinema Europeu e não é por causa das suas cenas de sexo que gosto dele mas sim por causa das boas realizações e enredos. Esta apresentação pareceme assim, no mínimo, redutora.
No entanto, se a apresentação tivesse sido produzida por uma empresa independente apenas a acharia de mau gosto. Mas esta apresentação foi produzida por um organismo público que vive dos impostos dos contribuintes europeus, pelo que deveria ter tido, no mínimo, a sensibilidade de procurar não chocar aqueles contribuintes mais puritanos, como eu. Ou será que os nossos impostos não contam? Se assim for, não me importo que mos devolvam...
Acho que o vídeo não é nem ridículo nem contraproducente. É apenas banal, tão banal quanto a publicidade porno-chic em voga. Nesse sentido, os criativos da Comissão enquadram-se no espírito da época. Espero que continuem... desde que não se lembrem de lançar emissões de tele-realidade ou coisas parecidas.
Pessoalmente, ao visualizá-lo não me senti mais tentada a abraçar a causa europeia personificada nalgum comissário ou deputado europeu!!
E já agora, se, como muitos de vocês dizem, o clip feriu a sensibilidade de uns certos quadrantes particularmente antipáticos da UE, então só por isso, já valeu a pena: pode ser que decidam abandonar de vez este antro de imoralidade, onde criaturas tão perigosas quanto as mulheres ou os homossexuais têm, IMAGINE-SE, direitos.
ok, diogo, essa dos contribuintes convenceu-me.
a minha carteira ficou chocada.
há também o facto de a União gastar dinheiro a apoiar produtores de tabaco e a financiar camapanhas anti-tabagistas; nem o facto de haver saunas na sede da Comissão; ou uma sede do Parlamento que obriga a torrar rios de dinheiro.
dinheiro dos contribuintes, ao que julgo saber.
mas nestas coisas de massas, o importante é não perder de vista as coisas realmente importantes e vociferar bem alto contra o verdadeiro desperdício que é este vídeo!!!
já agora, alguém sabe quanto terá custado produzir aquele clip?
Cara Isabel,
Acho muito bem que o cinema europeu arranje formas de se promover inteligentemente como é o caso.
Estamos todos fartos dos violinos do John Williams (o Homem deve fazer música para filmes americanos à mais de 50 anos) dos filmes americanos lamechas e a puxar à lágrima e ao riso fácil.
Nada como a sofisticação de alguns filmes europeus, alguns excepcionais como o recentemente lançado "O Perfume".
Alguns dos comentários são certamente surpreendentes, de bacocos e saloios, representativos do país que somos...
O anúncio fez-me um clique automático ao Delicatessen, ou ninguém está recordado…
Acho o anúncio propositadamente polémico para precisamente procurar que todos reflictamos um pouco. Em termos estritamente publicitários consegue o pretendido com nota 10 em 10 possíveis assim que a polémica chegar ao Vaticano, como diz um dos comentaristas, e aos telejornais.
Eu acho o video bestial. Agora, para aumentar o efeito Axe na populaça, basta lançar o boato que isto nao tem nada ver com cinema mas é antes inspirado nas actividades do Parlamento Europeu. Vao ver como toda a gente vai passar a por o site do PE na cartela dos Favoritos.
Além de que foi lançado na altura ideal. Por exemplo, ha ja varios dias que ninguem neste blog menciona que a Polonia vai lixar a Conferencia Intergovernamental aos Tugas ou na necessidade de organizar referendos. Ups...
"Alguns dos comentários são certamente surpreendentes, de bacocos e saloios, representativos do país que somos..."
Anónimo: Que género de comentários?
"Para não variar, também vai depender do país onde seja visionado ... na holanda é algo banal e por isso não tem o efeito de choque e surpresa ..."
Na Holanda, a utilização do corpo da mulher como objecto de publicidade é alvo de críticas por parte das feministas. Não se vêm filmes de conteúdo erótio na TV holandesa, a não ser já tarde.
Os holandeses podem ser frios e secos em relação ao sexo, de modo que isso passa formalmente como tolerância, mas são bastante púdicos.
Tirando a maior aceitação da homossexualidade (mesmo assim, em Roterdão e fora das grandes cidades, muitos holandeses são bastante homofóbicos), não os considero substancialmente mais liberais que os portugueses, pelo menos os de Lisboa e do Algarve.
Há muito de "wishful thinking" quando os não-holandeses dizem que os holandeses são liberais. E eles sabem isso. Por isso, são cínicos.
Pena que este filme da UE até faz justiça ao cinema europeu (pelo menos o continental), onde o sexo é tantas vezes a maneira de levar as pessoas a ir ver os filmes. Nos filmes portugueses, não me lembro de nenhum que não tenha várias cenas "escaldantes" nos seus clips promocionais.
Não sou contra o sexo, aliás bastante a favor, mas já era altura de se fazer cinema a sério na Europa sem recurso aos truques do costume.
E por que não? É uma brecha nessa hermeticidade, pode ser que seja mesmo uma das fórmulas que a Comissão há muito procura para se "aproximar" dos 450 milhões... nesta altura já só falta, 445.
O video está muito bem feito, sem nada de indecoroso.
Anónimo: Então a resposta à minha pergunta?
Porque é que alguns comentários são "saloios" (?), bacocos" (?), representantes do país que temos" (?)?
O debate é sempre enriquecedor. Debate precisa-se.
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