quinta-feira, 26 de julho de 2007

De terrorista a parceiro de grande “humanidade”

Há muita coisa que ainda está por explicar no caso das enfermeiras e do médico búlgaros.

Parece óbvio que o essencial, nesta história, foi a libertação, terça-feira, dos seis acusados de um crime que não cometeram, vítimas de uma incrível maquinação de um país que começou por usá-los como cobertura para a falta de higiene dos seus hospitais – responsável pela contaminação trágica de 438 crianças – mas que acabou por os transformar na moeda de troca para garantir a metamorfose do coronel Kadhafi de ditador e terrorista em lider frequentável. Que, ainda por cima, é elogiado pelo seu “gesto de humanidade”, como referiu o comunicado emitido nesse mesmo dia pela Comissão Europeia, em nome do seu presidente, Durão Barroso, e, curiosamente, de Nicolas Sarkozy, presidente francês.

Não parece haver grandes dúvidas de que foi sobretudo a reabilitação da Líbia e a sua aproximação à Europa, mais do que os 461 milhões de dólares pagos às famílias das crianças infectadas – cuja origem ainda está por exclarecer – que esteve em negociação pelo menos estes últimos três anos. Em 2004, o então presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi, garantia que o caso das enfermeiras e do médico palestiniano (entretanto naturalizado búlgaro) estava praticamente resolvido, pendente apenas de alguns detalhes. Só que, com a adesão iminente da Bulgária à União Europeia (na altura em fase final de negociação), os líbios perceberam certamente o partido em termos diplomáticos que poderiam tirar dos seis reféns.

O resultado da negociação, expresso num memorando assinado entre europeus e libios na madrugada de terça-feira, fala por si: isolada ainda há pouco por causa do seu apoio ao terrorismo, a Líbia vai passar a ter acesso ao mercado comunitário para as suas exportações, sobretudo de produtos agrícolas e da pesca; os seus estudantes vão beneficiar de bolsas de estudo das universidades europeias; a UE financiará os programas de restauro do património arqueológico líbio; o reforço dos controles das fronteiras terrestes e marítimas contra a imigração clandestina contará com a ajuda técnica e financeira da UE; e os cidadãos líbios poderão dispôr de vistos “Schengen” de entrada no espaço de livre circulação de cidadãos europeu. Tudo isto no quadro de um novo acordo euro-líbio que vai ser negociado a toda a velocidade.

Nada mau como compensação para a libertação de seis inocentes. Sobretudo se se acrescentar os acordos assinados logo no dia a seguir pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, que voou a grande velocidade para Tripoli. E que cobrem a cooperação militar e industrial, investigação científica, educação, economia, comércio, cultura e migrações. E last but not least, “cooperação em matéria de nuclear civil”, o que inclui nada menos que o fornecimento de um reactor nuclear para tornar potável a água do mar, e que será fornecido pela empresa francesa Areva. As organizações ecologistas não tardaram a protestar contra o que consideram um acordo irresponsável devido aos riscos que comporta de proliferação nuclear.

Karel de Gucht, o ministro belga dos negócios estrangeiros, foi um dos poucos a protestar até agora contra esta abertura dos braços a Tripoli. “Não podemos agora recompensar a Líbia pela libertação de pessoas que foram presas em condições horriveis durante oito anos. A normalização deverá ser um longo processo, ao longo do qual a Líbia tem primeiro de preencher uma série de critérios nomeadamente em matéria de direitos humanos”, disse ao jornal belga De Staandard.

Passados dois dias desde o desenlace do caso, há uma série de questões que continuam sem resposta: que papel teve exactamente Sarkozy na libertação das enfermeiras e do médico, além de ter enviado um avião oficial para os transportar para Sófia? É certo que o novo presidente assumiu este caso como uma prioridade logo no dia da sua eleição, a 6 de Maio. Mas, em Bruxelas, há muito quem se queixe de que o que Sarkozy conseguiu foi sobretudo um aproveitamento político e mediático de uma negociação que foi conduzida com uma paciência infinita pela Comissão Europeia, e sobretudo com um grande empenhamento pessoal da comissária responsável pelas relações externas, Benita Ferrero-Waldner. Fortemente apoiada, é certo, pelo Reino Unido e Alemanha, durante as respectivas presidências europeias no segundo semestre de 2005 e no primeiro semestre de 2007.

E a mulher do presidente, Cecilia Sarkozy, que apareceu publicamente ligada a este caso há apenas duas semanas ? O que fez em Tripoli nos dois dias das negociações finais ao lado de Benita Ferrero-Waldner? Mera figuração ultra mediatizada – na Bulgária é comparada a Jackie Kennedy – ou algo mais ? Sarkozy diz que a sua mulher teve um papel “notável”, que o Eliseu classifica como “humanitário”.

E o que fez o Emir do Qatar, cuja “mediação” foi considerada essencial por Sarkozy e Barroso e agradecida por Kadhafi, mas cuja intervenção continua rodeada de mistério?

Finalmente, quem financiou ou vai financiar os 461 milhões de dólares do fundo económico e social líbio que pagou um milhão de dólares por cada criança infectada?
O mesmo memorando euro-líbio refere apenas que a Comissão Europeia “se compromete a que o Fundo internacional de Benghazi pague ao Fundo de desenvolvimento económico e social” os 598 milhões de dinares líbios (461 milhões de dólares) previstos no acordo de financiamento de 15 de Julho passado. Este foi o acordo que permitiu a comutação, logo no dia seguinte, das penas de morte dos seis acusados em prisão perpétua, abrindo a porta à sua extradição para a Bulgária (onde beneficiaram de imediato de um indulto presidencial).

Como é que Bruxelas vai respeitar este compromisso? Benita Ferrero-Waldner disse apenas que vai lançar um apelo junto de organizações governamentais ou não, europeias e não só, para obter “contribuições voluntárias” destinadas a alimentar este fundo. Mas, o que é que acontece se não conseguir reunir a soma prevista? Ou será que alguém já pagou mas ainda não se sabe?

14 comentários:

Alvaro disse...

Tratou-se de um rapto com pedido de resgate, nada mais.

Disto tudo parece salvar-se o Ministro belga, Karel de Gucht, o resto foi de uma sabujice espantosa.

É óbvio que é a União Europeia que vai pagar tudo com o dinheiro das nossas contribuições.

Sinceramente acho que devia haver um movimento de cidadãos que abrangesse a Europa toda e que dizesse, com o nosso dinheiro não!

E o pior disto tudo é que o Kadhafi quando soube que as enfermeiras e o médico búlgaro tinham sido amnistiados (como se ele esperasse outra coisa) vem protestar que o acordo não foi cumprido e pediu a captura dos búlgaros á Interpol!

No fim, Kadhafi, o Bin Laden das décadas de setenta e oitenta do século passado, recebe de volta (com juros) as indemnizações que pagou pelo acto de terrorismo com o avião da Pan Am sobre a Escócia, salva a face e ainda há quem o elogie pelo seu gesto humanitário!

Chocante!

Anónimo disse...

Cara IAC,
Ainda nao consegui encontrar nenhuma declaraçao oficial da parte da UE que confirme que os 461 milhoes vao ser pagos às familias. Por outro lado vi declaraçoes nao-oficiais de diplomatas europeus que dizem que a questao dos pagamentos foi levantada pelos Libios mas imediatamente rejeitada pela UE.
Afinal o que é que foi acordado? (e ja agora um link) Obrigado.

Isabel Arriaga e Cunha disse...

Bernardo,
O link que pede está no meu post, em "memorando". Esse é o texto divulgado com os termos do acordo euro-líbio. Logo no artigo 1 podemos ler: "la seconde partie s'engage à ce que le Fonds International de Benghazi reverse au Fonds de développement économique et social les sommes collectées dans le cadre de l'accord de financement du 15 juillet 2007 et son annexe, dont le montant s'élève à 598 millions de dinars libyens". A "seconde partie" é a Comissão Europeia

Anónimo disse...

598 milhões de dinares que correspondem a 461 milhões de dólares, ou seja, a compensação avançada pela Líbia através de uma fundação para compensar as... 461 famílias das crianças contaminadas.

um engenharia para todos poderem dizer que ninguém pagou resgate nenhum. o que é verdade, pelo menos directamente. mas, numa situação em que tudo está a ser tramsaccionado, é caso para dizer que só compra essa versão quem quer...

junte-se a isto os negócios entre a França e a Líbia logo no dia a seguir e a história começa a fazer muito mais sentido, principalmente o protagonismo do casal Sarko.

desta é que vai ser difícil limpar a virtuosa União Europeia.

Anónimo disse...

Bom, acho que a UE não deve cumprir o acordado porque o julgamento não foi justo.
Sendo que a verdadeira justiça é cega a motivações pessoais, o que pode ser feito é um novo jugamento das enfermeiras em solo europeu, justo, com apresentação de prova, com direito a defesa, baseado em FACTOS, e que se porventura houve alguma neligência por parte delas, a condenação nunca é de forma alguma a pena capital, mas sim a indicada para neligência médica.
Neste caso, caberia às autoridades médicas líbias, no seu interesse, colaborarem e apresentarem provas VERDADEIRAS. Como é previsto que isso seria uma humilhação para os libios, e eles se recusariam a apresentar provas para não aceitarem que o julgamento não foi justo... na ausência de prova, os acusados são absolvidos.
Ao serem absolvidos, têm direito a serem ressarcidos das autoridades libias.
Por consequência, a UE não deve pagar o resgate, nem cuprir o acordado com os libios. Pelo contrário devem ser os libios a pagar indeminizações avultadas a quem foi para o seu território prestar assistência médica humanitária, e acabou por passar quase uma década no corredor da morte por causa de um sistema de justiça que não é justo.
Como os líbios se recusarão a pagar indeminizações em vez de receberem, sanções contra a Líbia devem ser novamente impostas.
A França não deve tentar aproveitar-se da situação. Não deve de forma alguma fornecer material nuclear aos libios. Se o fizer, a UE deve impedi-lo. Como a UE não tem tomates para impedir a França em nada - porque a UE é fraca e corrupta, Portugal deve sair da UE.

Agradecem-se comentários ao meu comentário.

Rui Luzes Cabral disse...

O Raio escreveu "e que dizesse, com o nosso dinheiro não!"
Podia esclarecer melhor porque é que com o nosso dinheiro não?

Anónimo disse...

Caro rui luzes cabral,

O Orçamento da União Europeia vem das contribuições dos Estados Membros. Só da nossa parte vão uns quatro milhões de Euros por dia, 365 dias por ano.

E, claro, este dinheiro é dinheiro proveniente dos nossos impostos.

Agora, segundo se entende, a UE irá pagar, de uma forma ou de outra, milhões de Euros à Líbia pelo resgate dos bulgaros.

Este dinheiro só pode vir do Orçamento comunitário, isto é, dos nossos impostos.

E é aqui que eu me sinto revoltado. Custa-me ver a sabujice da UE e, já agora do Sarcozy, a elogiarem um bandido líbio que dá pelo nome de Kadhafi (O Coronel) que raptou, torturou e reteve em prisão durante oito ou nove anos nove búlgaros e, ainda por cima, a pagarem-lhe uma fortuna.

De uma forma geral concordo com o que o joao eurocéptico escreveu.

Acho que a UE não devia cumprir o acordado e devia voltar a impor sanções á Líbia. Acordos com criminosos, ainda por cima debaixo de pressão, não podem ser considerados válidos.

Isabel Arriaga e Cunha disse...

Raio, o dinheiro não pode sair do orçamento comunitario, porque não há margem para essa despesa. Se sair, é preciso uma decisão do conselho de ministros da UE e do Parlamento Europeu, e ficaremos todos ao corrente. Porque, imagine, o orçamento europeu é totalmente transparente!
A questão que levantei é saber de onde vem esse dinheiro e o que acontece se a Comissao Europeia não o conseguir mobilizar. Ou se já está mobilizado mas ainda não se sabe.

Além disso, não estou de todo de acordo com o disse a propósito do dinheiro dos meus impostos. O que estava em causa era salvar a vida de seis pessoas inocentes, e se o preço a pagar por isso foram 461 milhões de dolares, pois que sejam. É menos de um euro por europeu e é, do meu ponto de vista, dinheiro mais bem empregue do que, por exemplo, estádios de futebol, que também foram pagos com o dinheiro dos meus impostos. Uma coisa diferente é abrir os braços ao coronel Kadhafi e à sua grande "humanidade"

Anónimo disse...

"o dinheiro não pode sair do orçamento comunitario, porque não há margem para essa despesa"

Mas tem de sair de qualquer lado!

"o orçamento europeu é totalmente transparente!"


Ooops!... E o que é que isto tem a ver com o tema em discussão?

O problema é que venha o dinheiro de onde vier só pode ter uma origem, os contribuintes dos estados membros, mais nenhuma!

Acho muito importante que se salve a vida dos búlgaros. O problema é outro, é não chamar humanista a Kadhafi e é não pactuar com ele como se ele tivesse feito qualquer coisa bem feita.

O problema é face às acusações de tortura feitas pelos búlgaros, congelar o acordo enquanto a Líbia não autorizasse uma comissão de inquérito que esclarecesse o assunto.

O problema é não nos pormos de cócoras perante o Kadhafi.

Em suma, o problema é ter-se algum amor próprio e não ceder a chantagens!

"dinheiro mais bem empregue do que, por exemplo, estádios de futebol, que também foram pagos com o dinheiro dos meus impostos"

Oooh! Francamente não esperava uma boca tão demagógica vinda de si.

Já agora e para compor o ramalhete falta falar das ajudas da UE desperdiçadas a comprar Ferraris e SUV's...

Eu que até não gosto de futebol e que nem sequer sei dizer de cor os nomes de cinco jogadores que joguem em Portugal, reconheço, no entanto, que o futebol é uma indústria em que Portugal é altamente competitivo. Só em transferências de jogadores comprados baratos e vendidos caros, este ano já entraram em Portugal cento e tal milhões de Euros.

Aqui há tempos estive numa cidade tibetana chamada Gyangtse e fiquei num hotel com o mesmo nome.

Quando cheguei ao quarto liguei a TV e fiz um zapping pelos diversos canais e qual é o meu espanto quando vejo que um dos canais estava a transmitir um desafio do Porto!

Sim, é que os desafios das equipas portuguesas são vendidos para muitos países. É um bom negócio, é um produto que Portugal exporta!

E, é por estas razões que me choca a demagogia das pessoas que quando querem atacar vêm com a história dos estádios construídos com o dinheiro dos nossos impostos, isto sem fazerem a mínima ideia de quanto foi realmente gasto e também sem fazerem a mínima ideia de qual o retorno desses investimentos!

Mas, como o país vai mal é necessário atribuir as culpas a alguém e como a UE é intocável só resta atribuir as culpas à nossa incapacidade e estupidez

Anónimo disse...

Discordo com o Raio quanto aos estádios. De resto, a UE, deve não cumprir o acordado. Primeiro que se faça um julgamento justo das enfermeiras, e que se apure num inquèrito se ouve tortura. Depois, a França não deve fornecer material nuclear aos líbios.
A Libia nem sequer precisa muito de dinheiro. Acho que é o país mais rico de África, não?

Anónimo disse...

Esclarecimento:

Quando referi os estádios foi porque acho demagógico que se esteja sempre a vir com a história dos estádios como se a sua construção fosse um simples desperdiçar de dinheiro em divertimentos.

Eu não sei se a construção dos estádios para o euro2004 foi ou não um bom investimento.

Mas também não conheço nenhum estudo sobre o assunto, quanto é que se gastou do Orçamento do Estado e qual foi o retorno total desse investimento. Aliás, ninguém sabe isto, a começar por aqueles que estão sempre a dar a história dos estadios como um mau exemplo.

É que houve uma imensa campanha para nos convencer de que isto tudo foi um desperdício.

Ora ninguém chama a atenção a um facto muito curioso (pudera!).

Há dez anos a Grécia tinha um produto interno per capita inferior ao nosso.

Actualmente (ver CIA Factbook), a Grécia tem um produto per capita em paridade de poder de compra de USD$24.000 e Portugal tem USD$19.800.
E ao câmbio oficial, a Grécia tem USD$20.904 e Portugal tem USD$16.612!

E o que é que aconteceu na Grécia nestes dez anos? A Grécia organizou os Jogos Olimpicos mais caros de sempre (quase três vezes o custo dos de Sidney!).

Enquanto que Portugal lançou um campeonato de futebol que, segundo o antigo Ministro que tinha a pasta do desporto, José Lello disse uma vez na RTPN tinha custado um nadinha menos do que o Porto Capital europeia da Cultura.

É que o problema é muito mais profundo.

O problema é que a estratégia de desenvolvimento que estamos a seguir, apostando tudo na integração europeia, é uma estratégia errada (ver, por exemplo http://cabalas.blogspot.com/2007/07/espada-de-dmocles.html) o que é cada vez mais evidente.

Ora como os euroentusiastas se recusam a reconhecer isso, a solução é mandar as culpas para cima de nós. Cometemos erros, não soubemos aproveitar a "generosidade europeia", gastamos a "preciosa ajuda" europeia em estádios, Ferraris e SUV's, etc., etc.

E foi por esta razão que eu me revoltei com a referência aos estádios, não foi por concordar ou por deixar de concordar pois eu, tal como toda a gente, não faço a menor ideia se foi ou não um bom investimento.

Anónimo disse...

Não sei ao certo, mas apenas li nos jornais que as Câmaras Municipais iriam assumir parte dos custos. Acontece que os estádios estão vazios. Os estádios de Lisboa e do Porto poderiam ter sido juntos, um em cada cidade. O do Algarve não tem praticamente uso. É um desperdicio, tal como foi a Expo98, o CCB, e agora o TGV.

O que sei sobre a Grécia, é que nos anos 90 foi prejudicada pela guerra na Jugoslávia, ficando com as comunicações cortadas com o resto da Europa. Agora com a paz nos balcãs e com a entrada dos "clubes 2004" e "2007" a Grécia torna-se num país central na Europa. Para além disso, houve´o investimento nos JO, e as reformas económicas que o país fêz no final dos anos 90, nomeadamente com a redução do IRC.
Isto é uma questão importantíssima: É que os países da UE que têm um crescimento mais alto são os que têm menor taxa de IRC. Não venham falar só da educação (também importante), mas ó "corporate tax" é factor decisivo na escolha de um país para uma multinacional se instalar.
Depois há o turísmo: É que a Grécia tem um verão muito longo e quente. A água do mar lá não é fria como em Portugal. Quando se fala em turismo no sul da Europa, os países referidos são sempre Grécia, Espanha e Itália, e quase nunca Portugal. Apesar das praias na Grécia serem, na minha opinião de baixa qualidade - sem areia, água suja.
Estive na Grécia em 1991 e há 15 dias estive na Bulgária. Toda esta região tem o turismo em franca expansão. Há 15 anos atrás, quem é que iria viajar de carro pelos Balkans até à Grécia e Turquia, ou pela Roménia, Macedónia, Sérvia, Ucrânia, Bulgária, como o fazem irlandeses, italianos, americanos, australianos, holandeses que eu conheci agora na Bulgária?
Há 15 anos atras, eles vinham para Portugal.
Depois há a questão da enorme frota mercante grega. Porque é que Portugal recebe dinheiro da UE para demantelar a sua frota? Resposta: corrupção vinda da UE.
Porque é que Portugal está proibido pela UE de construir barcos de grande tonelagem? Resposta: Corrupção vinda da UE.
Porque é que a Grécia ficou com o dobro dos direitos de emissão de CO2, que Portugal tem? Resposta: corrupção vinda da UE.

Por isso , os portugueses devem deixar de ser fadistas, e temrem uma atitude firme: Deixar a UE.
Portugal tem a presidência da UE. É uma óptima altura para se organizarem protestos.

Anónimo disse...

O problema dos estádios é que se instituíu na população portuguesa a crença, favorecida pela União Europeia, de que gastar dinheiro, investir, etc., é pecaminoso.
Não discuto, porque não sei, se o investimento em estádios foi bom ou mau.
O que eu sei é que o futebol é uma indústria em que nós somos competitivos e que o governo deve apoiar.
O futebol não é um divertimento, é um bom negócio e Portugal consegue vender todas as semanas espectáculos para dezenas de milhões de espectadores.
Aqui há anos, antes do canal de desporto da Al Jazeera começar as distribuir os desafios portugueses para todo o mundo árabe, houve um Porto-Benfica que, segundo o Correio da Manhã da altura, foi visto em todo o mundo por 40 milhões de espectadores!
O que se devia pedir ao Governo é saber para onde vão os lucros deste negócio, se passam por Portugal (e pagam cá impostos) se ficam numa qualquer off-shore...
Atacar desalmadamente a construção dos estádios não leva a nada, é até muito negativo pois um Governo, como qualquer empresa, tem de tomar opções, umas vezes boas, outras não. O Governo deve ser julgado pelo produto final e não atacado pontualmente, investimento a investimento. Este tipo de ataque é castrante e conduz à inacção, isto é, é menos arriscado não fazer nada...

"houve o investimento nos JO"

Como é? A Grécia investiu nos JO e nós desperdiçamos dinheiro nos estádios? O investimento até me parece muito semelhante.

Nós não podemos reduzir o IRC pois se o fizessemos a Comissão Europeia caia-nos em cima. Uma redução do IRC provocaria nos primeiros anos um aumento do deficit que seria depois compensado, una anos depois, pelo aumento do universo e dos lucros, dos contribuintes.

Só que a Comissão Europeia é cega para estas coisas...

Concordo com o joao eu-céptico quanto ao turismo. Portugal, ao contrário do que nos querem vender tem poucas condições para o tipo de turismo que até se considera o principal, o turismo de praia. Exceptuando no Algarve as águas portuguesas são geladas. E mesmo no Algarve não é nada por aí além.
É difícil perceber porque é que um alemão que queira passar uns 15 dias na praia, mergulhar, nadar, etc. venha para Portugal em vez de ir, por exemplo, para as praias do mar Vermelho, no Egipto que até são mais baratas.

"Porque é que Portugal está proibido pela UE de construir barcos de grande tonelagem?"

!!!??? Não sabia!

"Porque é que a Grécia ficou com o dobro dos direitos de emissão de CO2, que Portugal tem?"

!!!??? Não sabia!

"Portugal tem a presidência da UE. É uma óptima altura para se organizarem protestos."

Portugal, no fundo, não tem a Presidência da UE, Portugal está só a fazer o frete à Alemanha e a levar para a frente, ou a tentar levar para a frente o que a Alemanha não teve tempo de fazer, nada mais, quem manda nesta "Presidência" é a Angela Merckel!

Quanto aos protestos, o que eu acho é que em vez de se fazerem manifestações em frente da Assembleia da República ou da residência oficial do primeiro ministro, deviam era fazer-se em frente do Centro Europeu Jean Monnet Largo Jean Monnet, 1-6 P-1269-070 Lisboa, perto da Avenida da Liberdade, por detrás do cinema S. Jorge.

Anónimo disse...

O raio: Nao tenho factos dobre o que disse relativamente aos limites de CO2 da Grécia e de Portugal, e relativamente aos barcos.
Apenas ouvi num documentário sobre a marinha mercante, na RTP2, que a UE tinha proibido Portugal de construir barcos de grande tonelagem.
Sobre o ETS, li isso num semanário português, aquando da polémica da construção duma central nuclear em Portugal.
Sobre sobre as características discriminatórias do ETS (Emitions Trade Scheme), protestei no forum do Euronews. Um palhaço de nome Pereira, português que vive em Bruxelas, que comenta nesse forum e deve receber algo para defender a UE, disse achar muito bem que Portugal tivesse limites de emissões de CO2 tão baixos. Perguntei-lhe quanto é que ele recebia para defender isso. A partir daí, começou a haver censura no fórum do Euronews.
Se Portugal tem pouca industria pesada como disse esse Pereira, poderia vender créditos de CO2 a outros países da UE e ganhar dinheiro, isto se os direitos de emissões fossem iguais para todos os países da UE. Mas isso não acontece com este acordo.

Voltando ao turismo, 90% dos turistas que nos visitam vêem de avião porque Portugal está longe. Como não há hipótese de ter aviões electricos, e como o transporte aéreo vai estar incluido no ETS, isso vai afectar o turismo em Portugal.
Portanto os portugueses devem protestar. Dizer NÃO à UE, não é crime. É participação democrática.

Quanto à construção civil, discordo com o Raio. Claro que o investimento em obras públicas, provoca crescimento económico. Mas pode não ser sustentado, se as obras não tiverem um efeito de alavanca na economia, ou seja, se forem inuteis.
As ligações TGV Lisboa-Porto e Porto-Vigo são inuteis. Só vai servir para nós importarmos mais electricidade de Espanha. Um TGV gasta muita electricidade. Os espanhois vão ganhar muito dinheiro com isto. São eles que estão por detrás da teimosia do governo em fazer o TGV.
O aeroporto na OTA é um disparate, e são os espanhois que estão por detras disso.
O euro~2004 foi util. O futebol dá dinheiro. O país está mais conhecido. Nada de errado nisso. Mas, não superam as despesas em estádios e jogadores, as receitas? Penso que sim. Corrijam-me se estou enganado.