sexta-feira, 6 de julho de 2007

EU Tube II

Uf! Estou mais descansada. Já tinha começado a achar que talvez estivesse a viver noutro planeta. E a questionar-me se não teria de rever a minha maneira de fazer jornalismo. E, sobretudo, se não teria de tentar convencer a Comissão Europeia a funcionar de uma forma mais sexy, por exemplo apresentando os seus comissários e porta-vozes nas conferências de imprensa e outras realizações assim um pouco mais despiditos.

Mas afinal constatei com alívio que não sou um bicho raro ao considerar ridículo o facto de a Comissão ter tido de recorrer ao video clip “Let’s come together” (notem que não me pronunciei sobre a substância do mesmo) para se fazer ver e ouvir. Talvez mais do que ridículo, o qualificativo adequado, seja, do meu ponto de vista, absurdo.

Mas gostei do debate/polémica que esta questão provocou. Quem me dera conseguir suscitar tantas emoções como as que aqui li quando voltar aos temas mais terra a terra – porque descanse, caro Bernardo, não vou deixar de cuidar do que faz mover a Europa. Correndo o risco de provocar uma debandada geral, claro.

Para encerrar este debate – por agora – só mais umas achegas. Quando leio que o video clip é um sucesso porque pôs toda a gente a falar da Europa, não tenho a certeza de que isso seja necessariamente positivo. Depende do ponto de vista, claro. Mas isso faz-me lembrar um personagem de outros tempos, o deputado do PSD Mendes Bota – lembram-se ? – que quando o jornal Independente troçava da sua pretensa veia poética, dizia: “quero cá saber que digam mal, o importante é que falem de mim”.

Também gostava de lembrar que a Comissão Europeia não tem qualquer mérito na criatividade, inventividade, ou qualidade gráfica do clip que aqui foi amplamente subinhada. Estes são atributos que pertencem unicamente aos realizadores dos filmes utilizados. Os técnicos da Comissão limitaram-se a seleccionar e a dar uma sequência às imagens. Mas também com uma oferta desta qualidade, mal estariam se o resultado não fosse aproveitável. A Comissão garante aliás que a realização deste clip custou exactamente 350 euros.

Agora aguardo com a maior expectativa para ver como é que a Comissão vai sobreviver ao seu próprio sucesso e continuar a interessar os europeus pelo que faz, e, sobretudo, conseguir que toda a gente continue a falar dela...

15 comentários:

Anónimo disse...

Antes de aceitar o seu repto,não quero deixar de lhe lembrar onde se faz uma das diferenças mais importantes entre um grande filme e um filme vulgar: A sala de montagem (ou hoje,com a introdução do digital, nas estações de trabalho de montagem).
Aceitando o seu repto, lanço-lhe umas achazinhas para a "fogueira" da discussão da Europa. Anda por aí,em França, um best-seller , "Aimer l'Europe" de Robert Toulemon. Já leu? Òptima leitura em tempo de discussão de mini-tratado.

Anónimo disse...

No fundo o filme publicitário é um apanhado de cenas de cama em filmes europeus. Se custou apenas 350 euros, dá bem a ideia que promover o cinema europeu vale a pena e é barato.
Não acho má a ideia. Mesmo que seja eurocéptico, a UE tem coisas positivas: tribunal europeu dos direitos do homem, livre circulação de pessoas, etc, unificação de aspectos práticos, cartas de condução, cartões de débito, etc.
O negativo é a desigualdade, a discriminação contra os estados com um lobbying mais fraco (Portugal), e a integração cega e forçada num continente tão sesceptível.
É sinistro e suspeito que nos venham agora dizer que discutir a Europa deve ser tabu. Democracia?

Por isso, blogs como este são muito bem vindos.

Anónimo disse...

Este é o mais honesto dos videos que se poderia fazer sobre a Europa.
Para citar um jovem emigrante africano, que trabalha nas obras:
"Tamo F...do".

É também um convite aos restantes habitantes do mundo, para nos madarem f....r!

Anónimo disse...

O que eu acho mais estranho (?) nesta polémica toda, é o tal filme andar a ser exibido há meses em salas de cinema por essa Europa fora onde filmes de produção europeia apoiada pela EU são exibidos regularmente, e só agora, depois de alguém o pôr no YouTube, é que as vozes críticas se fizeram ouvir. Isto faz-me pensar que se fossem mais vezes assistir a filmes europeus e se preocupassem menos com os custos de filmes publicitários ao cinema europeu, a coisa compunha-se por si só rapidamente.

DM em Caracas disse...

O Mendes Bota não foi muito original... Uma das muitas frases que ficaram famosas de Winston Churchill era precisamente "falem mal de mim mas falem de mim".

Anónimo disse...

Sexo é o minimo denominador comum de todos os seres humanos, na realidade de todos os seres vivos.

Porque que não cenas de sexo num anúncio que pretende galvanizar os Europeus?

Por vezes pasmo com as reacções intenpestivas sobre algo que está na base do nosso próprio nascimento,

Gustavo
http://www.pro-erotica.blogspot.com/

Unknown disse...

Mais uma vez concordo com Isabel Arriaga e Cunha. Acho que todos ficamos suspensos dos próximos sucessos da Comissão.
Nos dois primeiros textos da autora deste “blog” sobre o vídeo “publicitário”, entendeu-se que se discutia a União Europeia e a Comissão em particular. Mantenho que, em minha opinião, o vídeo segue a via fácil.
Por isso, pareceu útil para o debate notar esta faceta de uma comissão – “uma das instituições mais herméticas que existe”, como diz a autora – que, com a pele de transparência e modernidade, parece demasiadas vezes interessada na manutenção de poder pelo poder. O que está em causa é saber se a Comissão serve correctamente os europeus, ou se, na vertigem no mando, se serve dos europeus. A resposta em si interessa, sobretudo, para que possamos melhorar.
Na discussão, contudo, chegou-se demasiado rapidamente ao julgamento da cinefilia e do “bom gosto” de cada um de nós. Até, que, finalmente, passámos a ser “saloios” e “bacocos” e, como sempre aliás, o país fede e não merece alguns anónimos que comentam “blogs”.
Repito que está e causa a discussão sobre Instituições Europeias e cidadania. Também aqui neste “blog”, os que o comentam são um bom exemplo da corrente que acha que a “nomenklatura” europeia não pode ser posta em causa: das regras de transporte de cães e gatos até ao tratado constitucional, há os que sabem e pensam e os outros que têm é que agradecer que pensem por eles. Por isso não é preciso consultar os cidadãos em referendos inúteis, da mesma maneira que todos os que pensam que talvez o cinema europeu seja um pouco mais que “let’s come together” têm que ser educados.
Por mim, continuo a agradecer a Isabel Arriaga por este espaço de debate. Aproveito para pedir desculpa de não ser cinéfilo, mas também não achei que estivéssemos a discutir fitas.

Anónimo disse...

Porque alguns parecem estar suspensos dos próximos êxitos cinéfilos da Comissão, aproveito a oportunidade para sugerir a consulta dos 48 videos disponibilizados pela Comissão. Estão em: http://www.youtube.com/user/eutube
Para quem se queixa do hermetismo comunicacional da Comissão ficava bem reconhecer que o video que motivou este debate e a acusação de ridicula à dita, era 1 de 5 consagrados ao programa MEDIA (3 dos quais publicados curiosamente na mesma data. A este propósito interessante é o artigo de João Lopes no DN de ontem (ver em http://dn.sapo.pt/2007/07/08/artes/as_televisoes_europa_estao_contra_o_.html ).
Se como diz NOS o que interessa é discutir a Europa e as suas políticas, então abençoada polémica se voltarmos a essa direcção. E que melhor forma de "por a nomenklatura em causa" confrontando-a com questões substantivas. Por exemplo, quando podemos esperar ter políticas europeias uniformizadas no domínio fiscal?

Anónimo disse...

Caro "Joao EU céptico", a UE tem coisas positivas, é certo. O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem é que não é, no entanto, uma delas, já que pertence ao quadro institucional do Concelho da Europa e não da UE, coisas por sinal bem distintas.
Quanto ao anterior post da IAC, concordo que a Comissão "produz propostas, comunicações, livros verdes e brancos e mais relatórios regularmente incompreensíveis". Documentos técnico-jurídicos são, por natureza, dificlmente decifráveis pelo comum dos cidadãos. Este tipo de documentos não pretende, em nenhuma parte do mundo, funcionar como leitura de cabeceira ou de fim-de-semana. Não se queira fazer disso um problema exclusivo da Comissão. Uma coisa é produzir documentação técnico-jurídica, outra coisa é saber comunicá-la ao cidadão. São coisas distintas. E, se é certo que a Comissão tem falhado neste último, certo é também que a inicitaiva EU Tube é um pequeno passo em frente. Transformar toda esta montanha de informação ininteligível (mas necessária) num sketch de poucos segundos que toda a gente entende, parece-me (e a IAC vai ter de me perdoar) muito bem conseguido. Se não é a substância que é criticada, não consigo então entender o que é. Com ou sem orgasmos, o EU Tube é uma excelente iniciativa de aproximar e de comunicar o que é a União Europeia ao cidadão. Como diz o povo "e o resto é treta".

Anónimo disse...

Perdoem-me o erro grave (só reparei quando reli o texto). Conselho da Europa e não Concelho da Europa… a bem do nosso querido português.

Anónimo disse...

jb: Não sabia disso. Obrigado.

A propósito: Não confundir "let's come toguether" com "let's cum toguether"

São coisas distintas.

MAC disse...

Utilizar o instinto sexual para ganhar atenção não é feito nenhum. É a forma mais básica e primitiva de comunicação e até o meu cão consegue fazê-lo com a cadela da vizinha. O problema não é o vídeo mas sim o facto desta iniciativa ter posto em evidência a superficialidade e pobreza cultural dos dirigentes europeus.

Temos sempre a esperença de que um dia se venha a querer construir uma Europa a sério mas, com dirigentes destes... é natural que tenham medo dos referendos...

Mykahveli disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Não tinha intenção de voltar a comentar este assunto, preferia que caminhassemos pela sua sugestão de recentrar o debate nas questões de fundo europeias, não fora uma afirmação falsa no artigo que publica Digital do Público de hoje, a saber:
"Estamos mais do que habituados a observar a utilização do sexo,(......)no mundo da publicidade. (........). Em contrapartida a sua utilização na comunicação instituicional é inédita." Esta afirmação, que quanto a mim só encontra razão de ser pela sua tentativa de justificar a afirmação de que a Comissão se tornava ridícula com a difusão do clip em causa, é falsa.
Existem abundantes exemplos europeus de utilização do sexo em comunicação instituicional, citando apenas alguns,relembro spots do Ministério da saúde sueco,nos anos 80 com cenas de filmes como "Garganta Funda" e "Helga",outdoors da cidade de Amesterdam sobre a red line,monumentos nacionais com cenas de sexo explícito na Dinamarca e Suécia,o Ministério do Interior Francês utilizou o sexo em manifestos de contrainformação no Maio de 68 e até em Portugal spots da campanha de prevenção da Sida sobre a utilização do preservativo ( o famoso anúncio do carocha saltitante e do polícia,por exemplo).
Portanto um pouco mais de rigor na defesa dos argumentos de cada um penso que não ficaria mal.

Anónimo disse...

Correcção de português:
no comentário anterior onde se lê instituicional deverá, obviamente, ler-se institucional. As minhas desculpas pelo lapso