sexta-feira, 22 de junho de 2007

Polónia irremediavelmente isolada

O cenário mais temido por Portugal para a sua presidência da UE, aconteceu: depois de dois dias de negociações e tentativas várias, a Polónia insiste em recusar qualquer compromisso sobre o sistema de votos. A presidência alemã da UE bem se desdobrou em propostas destinadas a resolver o problema. Nada feito. E ninguém percebe o que é que os gémeos Kaczynski poderão aceitar para mudar de ideias.

A menos que a sua verdadeira intenção seja, como referem vários responsáveis europeus, impedir a Alemanha de terminar a sua presidência da UE, no dia 30, com um sucesso político. Aliás, um destes responsáveis referiu mesmo que os polacos deixaram claro que nunca fariam qualquer concessão à Alemanha, presidente da UE ou não. Já à presidência portuguesa, já é outra história.

A solução que parece estar a fazer o seu caminho entre os lideres passa pelo arranque das negociações para o novo Tratado sem o acordo da Polónia. Ou seja: a convocação da conferência intergovernamental (CIG), a única instância que tem o poder de alterar os Tratados europeus, e que vai tentar redigir o próximo até ao fim do ano, será feita por maioria simples dos Estados. Legalmente, não é preciso mais, mas politicamente, claro que seria incomparavelmente mais fácil negociar um texto com um mandato apoiado por todos.

O precedente conhecido de um processo idêntico deu bom resultado: em 1985, a convocação da CIG que redigiu o Acto Único europeu, a primeira alteração do Tratado de Roma, foi feita sem o apoio do Reino Unido. Que não hesitou em participar nas negociações como se não fosse nada. E Margaret Thatcher acabou por se associar ao resultado final, apoiando o novo Tratado aliciada pelas perspectivas do mercado interno previsto no Acto Único.

Portugal, que queria presidir à nova CIG com um mandato claro e preciso, está agora numa posição muitissimo difícil, porque vai ter de arbitrar uma negociação com uma Polónia isolada e ainda mais hostil. Se fôr este o cenário que sair da cimeira, que ainda está para durar, a futura presidência terá de conduzir o processo com um misto de firmeza e diplomacia para tentar convencer os polacos a associar-se ao processo e a aprovar o resultado final.

Para a Polónia, na linha do que referiu João Pedro Dias no seu comentário ao meu último post, a postura dos seus lideres conforta a tese de todos os que acreditam que o grande alargamento de 2004 foi prematuro, senão mesmo um erro. Ninguém consegue perceber o que é que os gémeos Kaczynski esperam ganhar com a sua postura. Mas toda a gente sabe que não será esquecida tão cedo

4 comentários:

Anónimo disse...

Bom, parece que os gémeos acabaram por concordar recebendo com um mero adiamento de alguns anos.
Mas a proposta da chanceler alemã de ignorar a Polónia e decidir tudo sem ela e depois coloca-la entre a espada e a parede não abona nada sobre a forma como a actual UE funciona.
Felizmente, vá lá, dou a mão à palmatória, não estava á espera, o Sócrates que vai ocupar a Presdência a seguir recusou o presente envenenado que a Angela lhe queria dar.

Anónimo disse...

errata:
onde está "recebendo com um mero adiamento de alguns anos" deve lêr-se "recebendo em troca um mero adiamento de alguns anos"

Free Will disse...

não percebi ... o que queria o Raio que ela fizesse?

a lógica dos polacos era fraca e básica... não suportada em nada lógico e acima de tudo sensata! A questão é que a chanceler jogou a alemã ... ou seja foi precisa e eficaz: querem querem não querem a gente não joga... que é o que se faz ás crianças quando amuam...
Eu gostava só de lembrar que alemana invadiu mais países ... se a polónia tem o que quer a holanda, belgica e outros podem vir agora pedir retroactivos da WWII!!! o que é algo sem sentido nenhum!!!

já, estive a falar com uns holandeses que so comentaram no gozo: imaginem o que era nós quer-mos igualdade para todos e que os gays e lésbicas fossem incluidas na constituição?

era bem ... era bem... ;)

Anónimo disse...

O que queria que ela fizesse? Queria, pelo menos, que não tentasse forçar a sua vontade por todos os meios. A bem ou a mal.
Numa união de países não se pode ter tudo o que se quer pois é preciso contar com o que os outros querem ou não querem.
A Constituição Europeia foi deixada para trás (ou devia ter sido) e muito bem porque, pelo menos, dois países recusaram-na.
Fazer tudo à revelia de um país e depois das coisas feitas chantagear esse país para aceitar o que não quer aceitar mostra que a Ângela ainda não se libertou da educação que teve na antiga Alemanha Oriental.
Depois os manos polacos até têm razão e, por acaso nem estavam sozinhos. Os checos, por exemplo até estavam inclinados a concordar com eles.
É que é este sistema que dá demasiado poder aos grandes está a criar e vai criar problemas muito graves na União Europeia pois impede, por exemplo, que a Turquia entre na UE.
Poucos países estariam dispostos a aceitar na UE um país como a Turquia com a força que o actual sistema lhe daria.
E quem diz a Turquia diz também a Ucrânia.

Quanto ao exemplo do holandês não tem pés nem cabeça. A posição da Holanda com os homosexuais é uma componente cultural da cultura holandesa e a cultura está (pelo menos por enquanto) fora das competências da UE.

Seria o mesmo que a UE nos ter imposto a legalização do aborto!
Eu que até votei a favor no referendo (isto é, nos dois referendos), se a UE tivesse uma atitude como a descrita estaria na primeira linha de uma manifestação que fosse apedrejar a representação da UE em Lisboa.
As transformações têm de vir de dentro, transformações impostas de fora, por mais bem intencionadas que sejam acabam em disparate.